A imagem mais comum que se faz do turismo na Índia são as ruas lotadas de gente, o tráfego barulhento, os templos exalando incenso e os mercados fulgurantes de cores. Ou seja, Mumbai, Nova Délhi, Calcutá… Mas, à medida que se desce para o Sul, o país começa a mudar de figura. Os idiomas são diferentes do hindi dominante, os signos de religiosidade crescem, a demografia decresce e as paisagens se transformam, às vezes radicalmente.

Quando visitei essa área, em 2012, fiz questão de fazer um passeio dos mais bucólicos: percorrer as Backwaters do estado de Kerala (pronuncia-se Kérala), no extremo sudoeste do país. Kerala é um pedaço incomum da Índia. Pólo esquerdista, com forte presença do Partido Comunista, é o estado com maior Índice de Desenvolvimento Humano, maior índice de alfabetização e indicadores sociais superiores à média nacional. Como se não bastasse, é considerado a região mais limpa da Índia.

As cidades de Kerala são igualmente movimentadas e densas, mas basta sair do perímetro urbano para se entrar em outro tempo. As Backwaters (remansos) são uma cadeia de lagos, lagoas e canais paralelos ao Mar Arábico. A ação das ondas e correntes costeiras forma diversas ilhas, entre as quais a água flui serena, com pequenas oscilações de efeito hipnótico.

Fiz o passeio de barco entre Kollam e Alappuzha (ou Allepey), trajeto de um dia inteiro. Ao mesmo tempo relaxante e fascinante, a viagem se estende entre coqueirais sem fim, cruzando com pescadores em seus barcos esguios, cenas do cotidiano ribeirinho, gente que acena das margens, redes de pesca “chinesas” com seus grandes véus erguidos sobre a superfície dos lagos. Houseboats belíssimos singram os canais levando conforto cinco estrelas para os turistas mais abastados. E a paisagem rivaliza com seu reflexo cristalino nas águas tranquilas.

Meu vídeo abaixo dá uma pálida ideia do que seja uma jornada pelas Kerala Backwaters. Dura 18 minutos, embalados pela música enlevante do Shaman’s Dream Project.