Gente que inspira

Sobre um média-metragem da Mostra Ecofalante e um novo curta da cineasta-ativista Iara Lee 

A borboleta pousada junto ao rosto de Ângelo Machado é uma das várias carícias cinematográficas que sua neta, Mariana Machado, lhe fez no média-metragem ÂNGELO, em cartaz na Mostra Ecofalante (veja aqui, mediante cadastro no site da mostra). O simpático e bem-humorado senhor, falecido em abril último, foi um emérito ambientalista e zoólogo, estudioso de borboletas e libélulas, além de professor e autor de peças e livros infantis. Ele mesmo brinca com sua multiplicidade enquanto performa para a câmera de Mariana na casa onde viveu por 50 anos, em Minas Gerais.

Simples e delicado, o filme se vale da intimidade familiar para fazer um perfil mais interessado na personalidade carismática do avô do que no seu histórico profissional. O que sabemos do seu trabalho e do seu passado pessoal vem de falas espontâneas e alguns filmes domésticos exumados carinhosamente por Mariana. Com sua verve de contador de histórias e sem qualquer pejo quanto ao rosto e à voz comprometidos, Ângelo foi um parceiro amoroso e divertido da neta na confecção desse retrato singelo, mas profundamente tocante.

Ângelo pode ser visto aqui.

Do lixo ao luxo

A brasileira Iara Lee é uma globe-trotter do documentário e do ativismo com sua Rede Cultures of Resistance. Há três meses escrevi sobre seu média-metragem Stalking Chernobyl, que reportava a subcultura pós-catástrofe naquela região da Ucrânia. Iara acaba de lançar um novo curta, agora cravado no Lesoto, um pequeno país incrustado na África do Sul.

Vivendo em extrema pobreza e assolado pelo HIV, o Lesoto depende economicamente da África do Sul e espiritualmente, como mostra FROM TRASH TO TREASURE, da criatividade e do empenho individual de pessoas iluminadas. O curta inventaria algumas delas.

Uma artista que transforma materiais descartados em belas roupas e acessórios, um coletor de sementes dedicado a salvar espécies ameaçadas, um escultor que trabalha com madeira de árvores mortas, fabricantes de intrumentos tradicionais, músicos que organizam oficinas de composição sobre temas conservacionistas, um instrutor de ciclismo devotado à proteção da infância, uma cineasta que milita contra o casamento infantil. O elenco inclui ainda um “artista alimentar”, ativistas LGBT, um rapper-for-change, um pintor que só trabalha com carvão e um estilista comprometido com a mudança de percepção das pessoas sobre a África.

O título completo do filme é From Trash to Treasure: Turning negatives into positives. Segue um modelo de documentário inspiracional baseado no conceito de cultura de resistência. Na visão panorâmica dos vários casos, é inevitável uma certa superficialidade, em parte compensada pelo olhar abrangente da edição. Cada um daqueles personagens mereceria um curta à parte, mas é melhor conhecê-los assim do que ignorar aquelas ilhas de consciência e inventividade no coração profundo da África.

Acione as legendas na base da tela, clique na rodinha de configuração e escolha Legendas – Traduzir automaticamente – Português.

Todos os filmes da Culturas de Resistência estão liberados online. Veja aqui.

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