É Tudo Verdade: Vicenta

Exibição gratuita: Plataforma Looke, 13/04 às 19h00 durante 24 horas

Em dezembro do ano passado, a Argentina aprovou o aborto legal até a 14ª semana de gravidez. Resultado de uma luta de décadas das mulheres argentinas, da qual um pequeno fragmento é recontado em Vicenta. Esse animadoc reencena um acontecimento de 2006 em Buenos Aires, quando Vicenta Avendaño, mulher pobre e analfabeta, descobriu que sua filha mais nova, portadora de uma deficiência mental, havia sido abusada por um tio e resultado grávida.

Vicenta e a filha mais velha procuraram interromper a gravidez de Laura pelos caminhos legais. Apesar de todas as circunstâncias favoráveis à medida, o pedido foi barrado pela burocracia judicial e por dogmas religiosos. O caso, levado à Suprema Corte do país, mobilizou a opinião pública na época e atraiu a atenção de um grupo de mulheres ativistas, que acenou com a possibilidade de um aborto clandestino. Posteriormente, Vicenta juntou-se ao coletivo feminino e processou o estado argentino junto ao Comitê de Direitos Humanos da ONU.

A história contada em Vicenta é de insensibilidade oficial e desprezo pelos direitos da mulher, mas também de união de forças e empoderamento pessoal. Mediante longos travellings por repartições públicas desumanizadas, o filme de Darío Doria enfatiza a impotência do cidadão comum perante as contradições do Judiciário.

O estilo de animação é bastante peculiar, algo que eu chamaria de stop-no-motion. Os bonecos confeccionados por Mariana Ardanaz permanecem imóveis entre alguns efeitos de luz e lentos deslocamentos de câmera. Essa imobilidade reforça a ideia de paralisação diante da máquina judicial, mas não impede que as figuras comuniquem com eficiência o que existe de dramático na situação. O que prejudica um pouco o nosso envolvimento, a meu ver, é a narração reiterativa e monocórdica da veneranda cantora Liliana Herrero. Essa participação, contudo, reflete o engajamento de Liliana no peronismo e no movimento de mulheres argentinas.

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