VISITA, PRESIDENTE na Globonews
Mesmo para quem não esperava muito, Visita, Presidente foi decepcionante como documentário. Faltou construção que elevasse o programa acima de uma reportagem retrospectiva sobre fatos mais que conhecidos. A qualidade do som é irregular e a montagem parece rudimentar.
A diretora Julia Duailibi, repórter da própria Globonews que ajudou a cobrir o período em que Lula esteve preso, volta a alguns personagens próximos ao presidente para colher lembranças. Consegue a façanha de conversar com o fotógrafo Ricardo Stuckert, normalmente arredio a entrevistas, e a futura Primeira Dama. Nos dois casos, extrai bem menos do que se esperava, muito embora seja interessante saber que Janja e Lula se comunicavam por cartas diárias, vídeos e piscadas de luz entre o apartamento dela e a cela dele em Curitiba.
Para mim foram novas as informações de que Gleisi Hoffman foi cogitada para a candidatura à presidência em 2018 e que havia agentes da Polícia Federal infiltrados no Sindicato dos Metalúrgicos na noite fatídica que antecedeu a entrega de Lula.
De resto, a reportagem revisita os muitos episódios desde a condenação até a libertação através de entrevistas com os advogados, colaboradores e políticos mais íntimos de Lula. A maior parte do que se ouve não é novidade para quem viu a excelente minisserie A Trama ou o documentário 580 Dias, de Joaquim de Carvalho. Aqui cabe ponderar que a audiência da Globonews tem a capacidade de expandir em muito o alcance dessas informações, o que não deixa de ser um mérito indireto.
Vale considerar, ainda, que um programa de cerca de 1 hora e meia totalmente narrado da perspectiva do PT é um dado histórico no âmbito da Rede Globo. A iniciativa parece fazer parte de um movimento recente de recomposição do posicionamento da emissora depois de tantos anos de oposição a Lula. Veremos se não será apenas transitório e estratégico.
Para uma reportagem intitulada Visita, Presidente, é inconcebível que nem sequer mencione as visitas de estadistas e grandes figuras nacionais e internacionais como Leonardo Boff e Adolfo Pérez Esquivel. A Vigília Lula Livre, tão fundamental para o cotidiano de Lula na prisão, ocupa menos de um minuto na tela.
O programa abre com uma incorreção crassa, afirmando que a prisão de um ex-presidente era fato inédito no Brasil. Minutos antes da estreia na quarta-feira, o próprio jornal da Globonews apresentava um comentário de Ariel Palacios sobre os ex-presidentes brasileiros que tinham passado pela cadeia depois de deixarem o cargo. Lula foi o oitavo.
Reprises:
– Madrugada de quinta (29) para sexta (30), às 3h30
– sexta, dia 30 de dezembro, às 7h30
– sábado, dia 31 de dezembro, às 20h30
– Madrugada de sábado (31) para domingo (1º), às 5h30
– domingo, dia 1º de janeiro, à 0h
Ainda tento entender os motivos reais que levaram a GNews à realização do doc, que de doc está a anos-luz de distância. O que pretendeu a emissora? Homenagear? Lembrar às vésperas da posse que Lula foi um “presidiário”? Se autopromover como emissora imparcial?
Como vc diz, não passa de retrospectiva. E nem vou falar da ausência do entrevistado principal, o presidente. O doc me remeteu aos programas do Caco Barcelos. Única surpresa pra mim, foi mesmo a história da Gleisi
A mim pareceu puro e simples oportunismo.