Vozes contra Belo Monte

Uma das obras mais discutidas dos tempos recentes no Brasil, a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte é apresentada com viés bastante crítico no documentário BELO MONTE: UM MUNDO ONDE TUDO É POSSÍVEL. Testemunhos de índios e não índios apontam os impactos ambientais e sociais causados pelas inundações de grande parte da floresta amazônica e do entorno da cidade de Altamira (PA). Contaminação das águas, remoções populacionais, aumento da criminalidade… “Um absurdo”, no dizer de Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu.

O filme, produção da Globofilmes e da Globonews, não se interessa por colher opiniões favoráveis à usina, que não são poucas entre a população local. Mas é possível entender isso no âmbito de um documentário que toma partido claramente contrário em vez de mergulhar na controvérsia. O que causa estranheza é esse posicionamento ficar tão explícito e adjetivado no caudaloso texto de narração “onisiciente”, de autoria do jornalista Edilson Martins, um veterano conhecedor dos problemas amazônicos. Expressões como “sem piedade”, “a toque de caixa” e “uma nova e brutal realidade” soam por demais retóricos e forçam sobremaneira a orientação do espectador. Isso sem falar numa contradição como chamar de “invasores” os índios que ocupam uma área da obra. Ou em frases de difícil compreensão como “A revolta ganha ingredientes junto aos trabalhadores”.

Essa narração em off acentua o caráter televisivo do documentário, o que se expressa também na abordagem superficial de muitos aspectos, na inserção de um bloco típico dos programas de caça policial a bandidos e traficantes, ou ainda no uso de uma trilha sonora um tanto sensacionalista. Onde o filme melhor se impõe é mesmo no acompanhamento de indígenas e ativistas em ações de intervenção direta. Particularmente fortes são as cenas da ocupação de um acampamento da construtora, antecedido por um confronto quase físico entre índios, engenheiros e seguranças, e seguido por manifestações de solidariedade dos trabalhadores da obra. A eloquência desse quadro diz muito das tensões que se estabeleceram em torno de Belo Monte.

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