Armênios, com muita emoção

A PROMESSA me surpreendeu com sua equilibrada combinação de drama romântico e reconstituição de uma tragédia histórica. Em muitos aspectos, o genocídio da minoria armênia pelas forças do Império Otomano durante e pouco depois da I Guerra Mundial antecipou métodos e extensão do holocausto nazista. Cerca de 1,5 milhão de armênios foram dizimados sumariamente ou em campos de trabalho. O filme de Terry George, bancado pelo bilionário americano de ascendência armênia Kirk Kerkorian (1917-2015), fornece uma visão dilacerante daqueles eventos, talvez a mais pungente que já vi no cinema.

Em formato clássico de superprodução, os fatos históricos vêm a bordo de um triângulo amoroso entre um jovem estudante de medicina armênio, uma brava e bela conterrânea, e um jornalista americano. O título se refere a um compromisso do rapaz com uma moça de sua aldeia, que ele deixa para estudar em Constantinopla (atual Istambul). A avalanche de acontecimentos do ano de 1915 vai atirar esses personagens numa jornada de encontros, separações, perdas e renúncias. Nada, porém, fere a justeza das emoções, tanto individuais quanto coletivas. Até o perfil quase irreal de tão nobre do jornalista vivido por Christian Bale torna-se convincente pela sensibilidade com que as relações são conduzidas no roteiro.

No ano passado assistimos ao excelente “Uma História de Loucura”, de Robert Guédiguian, sobre ecos do holocausto armênio em décadas posteriores do século XX. A PROMESSA tem qualidade semelhante em sua habilidosa conjugação do familiar com o étnico, da fabulação amorosa com uma incriminação inequívoca dos militares turcos. O governo de Ankara até hoje se nega a reconhecer que cometeu um genocídio.

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