O cinema coreano tem um apetite de gênero como nenhum outro. Eles se enfiam até o pescoço nas convenções, sejam elas do filme de ação, da comédia, do drama ou do terror. O MOTORISTA DE TÁXI, escolhido pela Coreia do Sul para concorrer ao Oscar (já eliminado), tem uma caractrerística curiosa. À medida que seu personagem central vai adquirindo consciência da situação política do país durante a Revolta de Gwangju em maio de 1980, também o filme vai se reacomodando em diferentes gêneros: da comédia ao drama histórico, dai à ação, ao suspense e ao melodrama.

Romanceando um bocado a história real que lhe deu origem, o longa conta a saga de um modesto taxista de Seul que conduziu um repórter da TV alemã na perigosa missão de entrar na cidade de Gwangju sitiada pelo Exército e abalada por manifestações contra a ditadura militar. A princípio alienado, simplório e oportunista, o chofer vai passar por uma profunda – e edificante – transformação. O que se apresentava, então, como um comédia light na linha do buddy movie, explorando o contraste entre o taxista burlesco e o jornalista impassível/arrogante, vai evoluir para um pesado drama de conscientização individual e heroísmo coletivo.

As caracterizações são bem ingênuas, dentro de um modelo típico coreano onde não cabem maiores sutilezas. Um vilão empapuçado de ódio anticomunista exemplifica a tendência a transformar uma tragédia política numa espécie de bang-bang individualizado. Essa foi a maneira que o diretor Jang Hun e o(a?) roteirista Eom Yu-na encontraram para aproximar as plateias atuais de um evento que marcou a história da redemocratização da Coreia. A produção é muito eficaz na descrição logística da época e na encenação do massacre que ceifou a vida de um número incerto de centenas de pessoas, em sua maioria jovens e estudantes. Coisa séria, que o filme aos poucos se “conscientiza” para bem dimensionar.