Outra mulher fantástica

TAMARA

Atenção! TAMARA não é apenas mais um filme sobre transgêneros. É um dos mais interessantes na abordagem da diversidade sexual. Se considerarmos que foi feito na Venezuela em crise de 2016 e é o atual representante do país na corrida pelos Oscars, aí então os méritos parecem ainda maiores.

O longa se baseia com liberdade na história de Tamara Adrián, a segunda mulher tansgênero eleita para um cargo político na América Latina, mas incorpora também dados de outras personagens reais. Nos anos 1980, de volta de seis anos de estudo em Paris, onde levava vida andrógina, Teo Almanza se submete às regras binárias para seguir carreira de advogado. Mantém um casamento ultraconvencional que lhe dá dois filhos, até que um dia decide avançar no propósito que sempre teve, o de assumir um corpo de mulher.

As cenas de seus encontros com uma prostituta trans (Jhovana Lozada) e com uma jovem bibliotecária (Prakriti Maduro) são ousadas e ao mesmo tempo incrivelmente ternas. Nesses momentos, a diretora venezuelano-americana Elia K. Schneider (Punto y Raya) esbanja sensibilidade e senso de medida. É notável também o seu domínio na direção de atores, com destaque óbvio para o astro caraquenho Luis Fernandez numa composição nuançada e introspectiva. Uma câmera ágil nos mantém conectados com cada gesto e reação dos personagens. Os figurinos de Tamara são uma atração à parte, ainda que, do ponto de vista da produção de arte, uns tantos anos se passem sem mudanças aparentes.

Depois de fazer a transição numa clínica da Tailândia, Tamara enfrenta outro tipo de dificuldade, já que não confunde identidade de gênero com opção sexual. Segue tendo preferência inequívoca por mulheres, o que é complicado de equacionar. O ambiente de uma faculdade católica, onde ela leciona Direito, tampouco lhe facilita a vida. A transfobia é dominante na elite de Caracas, e a burocracia lhe nega o reconhecimento como mulher.

A Tamara real (foto à esquerda), que aparece rapidamente no papel da reitora da universidade, tem hoje 63 anos e ainda não conseguiu livrar-se oficialmente do nome de batismo, Tomás. O fato de seu ativismo LGBTI  a levar ao Parlamento pelo Partido Vontade Popular, de oposição ao chavismo, foi uma surpresa e tanto num país como a Venezuela. O filme, porém, não alcança esse período de vida pública. O foco está no processo de múltiplas transições, nas perdas e conquistas de Teo Almanza até se tornar uma mulher fantástica. Por sinal, anterior à premiadíssima de Sebastián Lelio.

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