BORDER
O termo inglês border tem um sentido vasto. No caso do filme BORDER, cobre tanto a fronteira em que Tina trabalha como farejadora de irregularidades, quanto o limite entre espécies e gêneros. O roteiro se baseia na novela homônima de John Ajvide Lindqvist, autor do original de Deixe Ela Entrar, fantasia igualmente romântica e espantosa sobre a relação entre um menino e uma pequena vampira.
Em BORDER, a peculiar Tina literalmente fareja mentiras e sentimentos como medo, culpa e vergonha entre os passantes na alfândega sueca. Um dia, um homem com características físicas semelhantes às suas desarma sua perícia e a intriga de maneira especial. Ela encontra nele uma alma gêmea que vai despertar seus instintos adormecidos e instigar curiosidade por suas origens reais.
No pano de fundo de uma história misteriosa no limite do extravagante, temos um libelo contra a crueldade humana e, mais especificamente, o abuso infantil. Para chegar aí, o diretor Ali Abbasi, de origem iraniana, certamente investiu seu interesse pela fronteira possível entre dois mundos tão distantes quanto o Irã e a Suécia.
Contou com dois atores fenomenais, recobertos de pesadas próteses e maquiagem, que valeram ao filme uma indicação ao Oscar. Eva Melander, secundada por Eero Milonoff, passa com extrema habilidade das reações psicológicas humanas mais corriqueiras a uma sensibilidade animal assustadora. A escolha de Tina entre o mundo dos homens e o dos trolls (criaturas antropomórficas da mitologia escandinava) encerra esse conto fantástico com um toque de estranha ternura.
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