SAÚDE! VELHO CHICO
A Fundação Oswaldo Cruz tem um histórico de produções em vídeo que buscam na saúde pública a sua vertente política. O mais novo lançamento do selo Fiocruz é o documentário SAÚDE! VELHO CHICO, uma investigação da situação na região do Rio São Francisco. O mote é a memória fotográfica da expedição empreendida, em 1912, pelos cientistas Adolpho Lutz e Astrogildo Machado para sondar as condições de saúde daquela área.
Mais de um século depois, os pesquisadores encontram sinais de melhoria, sobretudo pelos ganhos de infraestrutura e pelas iniciativas de pequenos agricultores e comunidades populares. Mas deparam-se também com a degradação quase fatal do rio, hoje anêmico e envenenado. Em encontros com agricultores e líderes comunitários da Bahia e de Minas Gerais, os diretores Stella Oswaldo Cruz Penido e Eduardo Vilela Thielen recolheram relatos de poluição e assoreamento do rio, uso intensivo de agrotóxicos, doenças, mortes, seca, desmatamento, pistolagem, assassinatos e expulsão de famílias de pescadores por uma polícia a soldo do latifúndio. Sobram acusações até mesmo para o projeto de transposição do Rio São Francisco, cujo objetivo principal seria favorecer os grandes investimentos agro-industriais, conforme alega um padre que já fez duas greves de fome em defesa do rio.
Numa reportagem panorâmica como essa, as razões de cada depoimento não têm tempo de ser suficientemente explicitadas, o que faz falta. Ainda assim, o caudal de problemas do Velho Chico não deixa dúvidas quanto à urgência de sua revitalização. O documentário apresenta um belo trabalho fotográfico (de Paulo Lara e Rafael Diniz) e falas cheias de vida e inteligência de camponeses, pescadores, quilombolas e lideranças populares. A performance musical de uma pescadora, que encerra o doc de 52 minutos, tem o sabor de grandes momentos do cinema de Eduardo Coutinho.
P.S. O título desta resenha parafraseia o do documentário Tietê: um Rio que Pede Socorro (1986), de Eduardo Coutinho.
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