Há mais de 50 anos o cineasta Anand Patwardhan faz documentários sociais e políticos na Índia, sempre numa perspectiva crítica e progressista. Eu já conhecia Jai Bhim Comrade, de 2011, libelo contra a discriminação aos dalits (“intocáveis”) no cruel sistema de castas da Índia. Em 2018, ele ganhou o IDFA de Amsterdã com Reason, filme sobre a ascensão da extrema-direita em seu país.

A certa altura de O Mundo é Família (Vasudhaiva kutumbakam), vemos uma passeata contra o primeiro ministro Narendra Modi, cujo partido ultranacionalista hindu BJP é uma das grandes forças da ultradireita no mundo. O BJP propõe a subalternização da população muçulmana, gerando uma ruptura violenta no tecido social da Índia. Esse novo filme de Patwardhan vai às raízes do problema a partir de vivências da sua própria família.

A mãe do cineasta foi uma ceramista famosa, formada em Londres, que teve que deixar sua cidade natal quando houve a Partição entre Índia e Paquistão, em 1942, e a cidade de Hyderabad ficou no lado paquistanês. Aos 17 anos, ela se juntou aos protestos em Calcutá contra a Partição. Foi próxima de Gandhi (ao lado dele, de branco, na foto), que também se opunha à separação entre os dois países. Por sua vez, dois tios de Patwardhan tomaram parte ativa no movimento de independência da Índia.

Patwardhan filmou muito os seus pais em idade avançada, material que usa em O Mundo é Família para levantar os cruzamentos da história de seus parentes com a história do país. Para quem não conhece detalhes históricos, é difícil acompanhar a rede de personagens, famílias e eventos que ele desdobra no documentário. De qualquer maneira, fica clara uma tradição de esquerda que se identifica com as pautas antidiscriminação, seja de castas ou de classes, seja de religião ou de região. Sem falar em ideais socialistas que atualmente estão soterrados pelo neoliberalismo de kurta (a típica roupa masculina indiana).

Particularmente envolventes e tocantes são as sequências íntimas com o pai e a mãe do diretor, que se estendem até os seus últimos dias. Um casal empático, cada qual a seu modo, retratado com carinho filial por um filho de grande sensibilidade.

09/04/2024 às 16h00 – Estação Net de Cinema Botafogo
10/04/2024 às 14h00 – Espaço Itaú de Cinema Augusta
12/04/2024 às 20h00 – Estação Net de Cinema Rio (Sala 5)
14/04/2024 às 14h30 – IMS Paulista