“In On It”: olhares fora do eixo

In on it

Uma das melhores notícias da cena teatral carioca recente foi a prorrogação da temporada de In On It no Oi Futuro. Vai até o dia 19, mas a essa altura já deve estar com ingressos esgotados. Pobre de quem perdeu. A peça do canadense Daniel MacIvor, tal como dirigida por Enrique Diaz e interpretada por Fernando Eiras e Emilio de Mello, é um cumprimento à sensibilidade e à inteligência do espectador. Não é sempre que nos vemos envolvidos de tal maneira pela magia do teatro naquilo que ele tem de mais simples: a palavra e sua expressão.

Os dois atores se desdobram em diversos personagens sem deixarem de ser, de alguma forma, apenas dois personagens. Ser e representar, então, se confundem deliciosamente. O recurso da peça-dentro-da-peça deixa de ser mero truque para se tornar razão mesmo do espetáculo, a tal ponto que nos perguntamos onde termina a enunciação e começa o drama. Nesse nó mágico, imponderável, reside o fascínio principal – e o mistério – de In On It.

Quando vi a peça, saí intrigado com um dispositivo da encenação: aqueles momentos em que os atores contracenam sem olhar um para o outro. Eu sei que a quebra desse eixo não é nenhuma novidade no palco, mas aqui ela funciona como um elemento quase absurdo, uma reiteração da liberdade que se deve esperar da cena teatral. Minha curiosidade era saber se aquilo eram rubricas do texto original ou criação da montagem brasileira.

A resposta chegou por intermédio de Patricia Rebello, que consultou Emilio de Mello e obteve a seguinte resposta: “O autor sugere que os personagens da ficção (da estória do Ray) se relacionem sempre de frente para o público mas como se estivessem cara a cara. As cadeiras desencontradas, as mudanças de posições durante as cenas e as quebras dessa convenção foram frutos dos nossos ensaios”.

Ou seja, a criação foi mezzo-a-mezzo. Eis uma felicidade do teatro (e da música) que o cinema desconhece: uma obra pode encontrar intérpretes que compreendam profundamente o seu autor e deem prosseguimento à estrada que ele começou a abrir.    

3 comentários sobre ““In On It”: olhares fora do eixo

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