Finalmente visitei Gary Hill no Oi Futuro (em cartaz somente até este domingo). Há 12 anos o conheci no CCBB, trazido pelo mesmo Marcello Dantas. Naquele evento, às quatro instalações se somava uma extensa mostra de vídeos single channel. Nada do que vi agora no Oi Futuro se compara a Tall Ships, um corredor escuro assombrado por figuras humanas que se aproximavam de nós como fantasmas interativos.
O mais próximo disso na exposição atual é Viewer, um clássico do gênero de 1996. Veja um pequeno trecho que gravei com minha Cybershot:
Numa grande parede alinham-se projeções de 17 homens em tamanho natural, que encaram o espectador com olhar mudo e pequenos movimentos naturais de cabeça, braços e pernas. Pela aparência e vestuário, são trabalhadores braçais de diversas etnias. Mas essa “informação” acaba não valendo muito diante da impassividade deles. Gary Hill trabalha aí nesse vazio entre o corpo e os significados. Parece dizer que não basta estar diante de um corpo, expressão absoluta da matéria humana, para compreender o mundo se o tempo e o contexto são abolidos.
Algo semelhante senti entre as quatro paredes da instalação Accordions (The Belsunce Recordings), um documentário expandido com imagens captadas num bairro árabe de Marselha. O material é documental (ruas, rostos, casas), mas a apresentação, em flashes de som e imagem a velocidades extremamente variáveis, anula toda função informativa. Ficamos, então, com um jogo de memória e expectativa a partir de fragmentos da realidade. Veja alguns segundos:
Aprecio mais os trabalhos de Hill com corpos alheios que os feitos com o seu próprio corpo. Três outras instalações lidam com a pressão do corpo do artista contra determinadas superfícies, explorando ora a estroboscopia, ora a tensão das ondas sonoras. Entre pressão e expressão, tenho certa dificuldade em compreender essas obras, sobretudo porque os textos de apresentação, obscuros e mal traduzidos, não ajudam muito.
Mas é sempre bom renovar o contato com esse artista que explora as fronteiras da nossa percepção no mundo virtual. A relação muito física com o corpo vem desde os seus tempos de surfista e skatista, quando realizou Skaterdater, o curta de 1965 que introduziu o skate na mídia. Você pode vê-lo aqui.