Nos primeiros jogos da Copa, enquanto a seleção argentina ainda prometia na África do Sul, eu observava o comportamento de Maradona à margem do gramado e postava essa trovinha no Twitter:
“Ele pode ser pedante, pode ser cafona / Mas ninguém humaniza mais o futebol / Do que Diego Maradona”
Logo depois, chegava o pior dia na vida esportiva de Don Diego, a goleada de 4 x 0 impingida pela Alemanha. Paralelamente a esse drama-tango, saiu no mercado brasileiro o DVD do documentário Maradona por Kusturica. Quando o filme foi exibido no Festival do Rio de 2009, fiz uma pequena resenha, que reproduzo a seguir. Ainda não revi o filme desde então, mas acho que mantenho as palavras:
Diego Maradona encontrou um retratista à altura em Emir Kusturica. Ambos são vaidosos, viris, fanfarrões, competentes no que fazem e lotados de ressentimento contra certos poderes constituídos. Maradona, contra a FIFA (suposta responsável pelas vitórias do Brasil em Copas), a Inglaterra (Malvinas) e a direita dos EUA; Kusturica, contra o Ocidente que se opôs à Sérvia na guerra da Bósnia. Os dois se identificam e dividem o tempo de tela. Kusturica flagra, sublinha e partilha o culto ao baixinho argentino, um misto de canonização e folclorização brega, algo difícil de definir. Diego é comparado a Fallstaf, Gilgamesh, Deus e os Sex Pistols, apenas para citar alguns. Ele próprio se define como um iluminado, só obscurecido pelo diabo da cocaína. Não se trata de uma biografia, mas de um elogio indisciplinado, uma declaração de amor do cineasta ao jogador, uma insistente e afetada aproximação do mito Maradona à mitologia construída por Kusturica em seus filmes. Estamos no reino dos excessos e da bufonaria. Política, inclusive. Quem entrar nesse espírito vai sair bastante recompensado.
Agora convido você a ler um texto bem melhor sobre o Maradona que aparece nesse filme, das teclas de Leandro Calbente.
Além das “neuras” comentadas, Maradona sofre de uma insuportável aflição: ele sabe que Pelé foi o melhor jogador de futebol de todos os tempos e, como não aceita essa verdade, vive repetindo a qualquer pretexto alfinetadas e críticas aos atos e opiniões do rival.
Taí uma opinião de quem entende tanto de futebol quanto de MPB. Grande Jairo!