Pílulas na rede 5

Não há nada de novo sob a escuridão de SOMBRAS DA NOITE, o novo Tim Burton. Mesmo assim, me diverti bastante com a paródia de vampirismo atravessando dois séculos e desembarcando em 1972. Até as piadas velhas funcionam legal quando o contexto é adequado e a direção é esperta. A maquiagem digital é o grande efeito especial do filme. Por causa dela, topamos com um vampiro de verdade: o velho Alice Cooper, que aparece novinho em folha como nos tempos em que fazia seu inferno no palco.

Recife tem sorte. Ter Claudio Assis, Kleber Mendonça Filho e Gabriel Mascaro filmando uma cidade é um privilégio. FEBRE DO RATO é mais um belo “poema sujo” sobre as bordas do Capibaribe. Algumas das cenas mais lindas do cinema brasileiro recente acontecem ao redor ou no meio do rio. O poeta vivido por Irandhir Santos celebra o erotismo da fala. A fala como sedução e jorro de inconformismo. A fala como reivindicação do direito de errar e de procurar o prazer onde ele estiver. O erro que leva o filme a perder gás na sua meia-hora final é a crença de Assis de que seus personagens fossem mais fortes do que são. Um erro poético de um realizador exuberante.

Já a partir do título, VIOLETA FOI PARA O CÉU se assume como hagiografia. Violeta Parra atravessa o filme como uma santa popular, e nem as paixões mundanas abalam essa imagem. É bonita a estrutura não-linear, assim como o realismo poético das imagens. O elenco é super bem escalado, e Francisca Gavilán nasceu para fazer e cantar Violeta (até o sobrenome “cita” uma canção dela). Mas a descontextualização política me pareceu esvaziar um pouco o retrato. E o tom monocórdico, como nas batidas do bumbo da moça, acabaram me prostrando um pouco. No fundo, essa visão de Violeta, por mais respeitável que seja, não me tocou em nada muito profundo.

O CABARÉ em cartaz no Teatro Casa Grande é melhor do que eu esperava. Será tanto melhor quanto mais nos afastemos da lembrança do filme de Bob Fosse. É uma versão mais escrachada, perpassada pela androginia. O mestre de cerimônias não tem a leveza de Joel Grey, mas sim a carga pesada de um bofe da Galeria Alaska. Claudia Raia é muito mais polpuda e afirmativa que a Liza Minnelli. Na plateia, senhores e senhoras, ao mesmo tempo que certamente não tiravam os olhos da bunda magnética de La Raia, mostravam-se chocados com a “baixaria” no início. Mas a coisa é tão bem assumida e levada com tanta competência que os ânimos foram se acalmando e no final eram só aplausos. A peça tem algumas “barrigas” graves, mas vale pela energia do elenco e a relativa ousadia da abordagem para um teatrão comercial como esse. E as versões de Miguel Falabella, mesmo sem conseguir fugir de muitas rimas pobres, não traem o espírito do original.

Um comentário sobre “Pílulas na rede 5

  1. Achei “Febre do Rato” sem gás muito antes da meia-hota final (ou com um gás forçado, artificial, inconvincente). Verborrágia vazia (até nas imagens gratuitas de pseudo-surubas). Fora admirar a a fotografia do Walter Carvalho (ainda que a serviço de nada ou quase nada), me senti perdendo tempo. Como em Violeta vai para o tédio e em Sombras da Noite. Ainda vou conferir o “Cabaré” brasileiro no teatro que vi em ótima montagem em Buenos Aires, respeitando a peça original com algumas (ou muitas) diferenças em relação ao filme.

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