Pororoca de clichês

MARVIN

MARVIN, de Anne Fontaine, é um filme coalhado de clichês. Na base de tudo, o lugar-comum do jovem gay tímido que descobre no teatro a saída para a autorrealização. Marvin troca a cidade natal, a família disfuncional e o bullying escolar por Paris e um círculo de amigos inclusivos.

Os estereótipos abundam. Os pais de Marvin são caricaturas de pobres grosseiros e preconceituosos. Em oposição a isso, ele encontra um cortejo de anjos digno de igreja barroca. Todos bem mais velhos, o que indica um psicologismo fácil de substituição da figura dos pais. Ele é praticamente adotado pela diretora da escola. Já adolescente, toma como modelo o professor de teatro, homossexual “sério” e moralista. Relaciona-se com um escritor maduro e boa praça. E ainda conta com o apoio de Isabelle Huppert (como ela mesma) para levar adiante seu projeto de peça autobiográfica. Projeto, aliás, que nunca ultrapassa o clichê do desabafo nem se estabelece dramaticamente dentro do filme.

Outro problema grave é a ruptura implausível entre o Marvin menino e o adolescente. A mudança de temperamento, de ritmo físico e mesmo de aparência entre os dois atores me fez encará-los como dois personagens diferentes que não resultavam um no outro.

Anne Fontaine é uma cineasta sensível a temas como afirmação individual e interação solidária, mas a irregularidade de sua carreira inclui pontos fracos como esse MARVIN.

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