PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO na Globoplay
O feminino brasileiro já deve um bocado a Joana Nin. Ela dedicou vários anos de sua vida a tratar de mulheres de presidiários no premiadíssimo curta Visita Íntima (2005) e no longa Cativas – Presas pelo Coração (2015). Desde 2010, Joana se debruça sobre outro tema crucial na sua Trilogia da Maternidade. Os médias-metragens Meu Bebê Reborn, sobre o mercado de bebês de vinil, e Ultra Bebê, sobre a espetacularização tecnológica da gravidez, foram exibidos em 2018 no canal GNT e podem ser vistos gratuitamente até o final de maio na página da produtora Sambaqui Cultural.
A trilogia se conclui com o longa Proibido Nascer no Paraíso, que chega hoje ao streaming na Globoplay. Aqui Joana Nin dá uma aula de contextualização em documentário ao abordar uma realidade quase surreal: as grávidas do arquipélago de Fernando de Noronha têm que deixar suas famílias e se mudar para Recife dois meses antes de dar à luz. Em 2004, o hospital local foi desaparelhado para partos, tendo-se notícia de apenas quatro nascimentos na ilha desde então. O serviço de saúde pressiona as “buchudas” (como são popularmente chamadas em Pernambuco) a aceitarem a transferência, sob pena de colocarem em risco sua vida e a de seus filhos. Elas se sentem chantageadas, ou mesmo expulsas, num momento capital de suas trajetórias pessoais.
Em inúmeras viagens a Noronha e a Recife, Joana e sua reduzidíssima equipe descobriram e acompanharam três histórias. Harlene e Ione obedecem a contragosto e se hospedam em Recife para aguardar a chegada dos bebês. Mas com Ana Carolina é diferente. Dona de um restaurante de tapioca e fortemente ligada à terra, resiste enquanto pode a ter sua filha longe da ilha onde ela, sua irmã e sua mãe nasceram. Trata-se, afinal, de uma questão de pertencimento e de um direito que tem sido retirado às mulheres locais por conta de uma série de fatores que o filme faz perceber.
É com muita habilidade que Joana levanta esse contexto por meio de vários recursos, além de inserções de narração na voz da própria diretora. Uma sessão de contação de histórias para crianças resume a evolução da ilha e sua gentrificação. A entrada e o desfrute de turistas, assim como o depoimento de um empresário do ramo de pousadas, pontuam os interesses em jogo na exploração do santuário ecológico. Conversas com médicos e agentes públicos situam os problemas do isolamento geográfico e a política habitacional que contribui para limitar o número de novos noronhenses. A ilha principal, de cerca de 6 mil habitantes, recebe em torno de 100 mil turistas por ano.
Enquanto segue de perto as três gestantes em seus dilemas e sonda o pano de fundo, o filme oferece uma visão das paisagens paradisíacas do arquipélago e mobiliza algumas belas metáforas envolvendo ovos de ouro e um berço vagando à deriva em alto mar. O destino de uma certa imagem de Nossa Senhora do Bom Parto agrega um toque de ironia à matéria.
Mais uma vez Joana Nin demonstra um notável equilíbrio entre o enfoque de dramas individuais e a atenção à conjuntura geral. Nela a vocação de repórter se une à de documentarista com foco preciso, senso estético e perícia na captação de detalhes definidores. Ana Carolina, a “Babalu”, é uma dessas personagens carismáticas e mobilizadoras que, por si só, justificariam um documentário.
Em vista do seu apelo social e político, Proibido Nascer no Paraíso tem sido objeto de uma campanha de impacto junto a grupos e entidades ligadas aos temas de gravidez, parto e direitos da mulher. Para saber como está sendo esse trabalho, basta acompanhar as redes sociais do filme listadas aqui. Na próxima quarta-feira (5/5), às 17h, Joana Nin participará de um debate no Youtube dos Jornalistas Livres, replicado no Facebook do filme.
>> Proibido Nascer no Paraíso está disponível na Globoplay e será exibido pelo canal GNT no dia 5 de maio, às 23h30.