
Selton Mello e Vanessa Giácomo em "Jean Charles"
Houve um momento em que parecíamos enjoar de Selton Mello. Ninguém duvidava da competência do ator, mas é que a superexposição, no cinema e na TV, gerava aquela sensação de “ih, lá vem ele de novo”.
Mas Selton sentiu que era hora de dar um tempo. Dedicou-se a sua estreia na direção, com o pretensioso e aborrecido Feliz Natal, um filme em que o diretor parecia fugir da sua persona de ator como o diabo da cruz. Agora está de volta em outra leva de interpretações. Mas será o caso de dizer “lá vem ele de novo”?
Só se for seguido de um “oba!”
Selton é fundamental em cada um de seus novos filmes. Talvez não tanto em A Erva do Rato, onde ele está engessado pelas idiossincrasias de Julio Bressane, passando a maior parte do tempo a contemplar os atributos corporais de Alessandra Negrini. Mas o que dizer de A Mulher Invisível, que respira as inflexões impagáveis e a criatividade aparentemente sem fim de Selton?
E vem aí o ótimo Jean Charles, co-produção anglo-brasileira dirigida por Henrique Goldman. No papel do imigrante morto por engano pela polícia no metrô de Londres, Selton Mello vai do drama à comédia e de volta sem perder um milímetro de veracidade. Talvez Jean Charles não fosse tão bonzinho. Talvez não fosse tão engraçado, mas é um personagem que se estabelece integralmente por conta do talento e do carisma do ator.
Em Jean Charles, Selton é o senhor do espaço fílmico, mas sabe dividi-lo fraternalmente com Vanessa Giácomo e Luís Miranda, também perfeitos. Quando virem o filme, reparem na maneira como ele se coloca nas cenas, ditando o ritmo dos planos, estimulando a interação dos outros atores e auxiliando os coadjuvantes menos dotados. Virtudes de um ator realmente extraordinário, que dá gosto ver na tela.
Que bom que Selton vem aí de novo.