Repito aqui o que escrevi sobre Polícia, Adjetivo no último Festival do Rio:
Nem tudo o que vem da Romênia é ouro. Nem mesmo de quem já fez A Leste de Bucareste. O segundo filme de Corneliu Porumboiu é um conto moral sobre a consciência. Para o jovem policial Cristi, encarregado de investigar o tráfico de haxixe entre colegiais, consciência é ética individual. Para seus superiores, é compromisso com o estado. Preso nessa teia, ele vai compreender que ainda falta muito para a Romênia se integrar ao espírito da União Europeia. O argumento é bom e o estilo do diretor pode lembrar palidamente Kieslowski ou Bresson. Mas a insistência em mostrar que a vida é feita de coisas insignificantes leva o filme a um marasmo exasperante. Tudo responde a um naturalismo esgarçado em tempos mortos, minúcias de cotidiano sem elipse e cenas longas que pretendem – e conseguem – mergulhar o espectador na inércia do lugar e dos personagens. Repetindo situações em que se debate o sentido das palavras, o filme se arrasta como – isso sim – uma discussão sobre o sexo dos anjos.
Eu gosto desse filme romeno mais do que os outros que já vi. É meio exasperante mesmo, mas acho que faz parte. Como dizia Hamlet: “papavras, palavras, palavras”.
Mas o título brasileiro tá errado: devia ser “Policial” – com “L” – para ser adjetivo mesmo.