Em sua biografia para a Coleção Aplauso (Memórias Substantivas, de Tania Carvalho), o ator Paulo José diz ser “um viajante na vida, não um turista”. E explica a diferença: “O turista é aquele que viaja para se esquecer dele próprio, para descansar dele mesmo, tem tudo pré-programado, não terá surpresas, todos os hotéis estão reservados, os ingressos dos eventos a assistir já comprados, tudo previsível. (…) O viajante, ao contrário, é aquele que viaja sem previsibilidade, não sabe quantos dias ficará em tal ou qual lugar, nem sabe exatamente quantos lugares vai visitar. Tudo vai depender do que acontecer na hora. E viaja para se encontrar, para se descobrir, se alterar, se modificar”.
A retórica da comparação soa muito bonita, sobretudo como metáfora para a vida. Mas, no sentido literal de uma viagem de férias, tenho minhas dúvidas. Imagino que o viajante Paulo José tenha algum turista para preparar direitinho suas viagens.
No meu caso, sou eu mesmo o turista e o viajante. Parto amanhã para duas semanas na Espanha. São poucos dias e muito desejo de aproveitar bem cada hora. Por isso já reservei assentos para mim e para a Rosane nos trens Madri-Barcelona-Madri. Já temos hotéis reservados também em Segóvia, Ávila e Salamanca, cidades que ainda não conhecemos. Não podemos nos dar ao luxo de perder tempo esperando vagas em trens ou procurando quartos disponíveis em cada lugar. Já reservei nossa visita ao Palau de la Musica Catalana, pois seria muito triste deixar de ver aquela joia da arquitetura modernista de Barcelona.
A Espanha é um desses lugares onde não se pode caminhar ao léu sem que os ecos da história e dos grandes artistas apelem à nossa imaginação. Por fim, há as dicas de amigos e outros turistas-viajantes que tornam “obrigatórios” certos pontos no mapa de cada cidade. Como não anotar, localizar, estabelecer prioridades? Viajantes de classe média, com dia certo para voltar, têm que ser turistas mesmo. O resto, meu caro Paulo José, é poesia.
Até os primeiros dias de junho, portanto, o blog não será atualizado. Mas pretendo postar no Twitter os bons momentos do nosso interlúdio espanhol. Acompanhe. E até a volta.
Oi Carlinhos!
Nem comento sobre os encantos que os aguardam. Mas me instigou a distinção de turista e viajante de Paulo José. Concordo com você, mas tomando a definição dele, sou mesmo uma viajante e levo muito pouco de turista em mim, inclusive na minha vida de todo dia, aqui, pertinho de casa, juntinho de mim.
Só não concordo quanto a essa busca intrínseca ao viajante que ele propõe (mudança, alteração, auto-descoberta, encontro de si).
Se viajo, não é porque me perdi, menos ainda para me encontrar de eventual perda. Se há qualquer interesse de encontro nas viajens que faço, esseinteresse é pelo encontro em si. Que venham os outros todos possíveis que estão perdidos por aí 😀
Boa viagem e aproveite o descanso merecido após as últimas batalhas.
Que vocês façam um ótima viagem e não deixem de ir a Barcelona, tocar nas paredes da igreja da Sagrada Família, entre outras coisas…
Abraços
Risomar
Claro que não vamos deixar Gaudí descansar em paz, Risomar. Um beijo e até a volta!