Churchill, o homem do ano

Em uma mesma temporada, o episódio de Dunquerque na II Guerra rendeu nada menos que três filmes. O DESTINO DE UMA NAÇÃO (Darkest Hour) é o último a chegar até nós, capitaneado pela excelente atuação de Gary Oldman, premiada com o Globo de Ouro e favorita ao Oscar. Brian Cox não ficou muito atrás com sua performance impecável (e menos pitoresca) em “Churchill”, filme contudo inferior ao de Joe Wright. Em “Dunkirk”, Churchill não aparecia, mas apenas sua voz no discurso apoteótico.

Enquanto “Churchill” retratava um Primeiro-Ministro vacilante e mordido pela culpa em relação ao desastre de Gallipoli, O DESTINO DE UMA NAÇÃO o mostra mais confiante, resistindo às pressões do gabinete para negociar um acordo de paz com Hitler. Sua intuição de que o povo inglês preferiria a derrota na luta do que uma rendição disfarçada de acordo vai ser confirmada numa sequência de alto teor demagógico a bordo do metrô londrino.

Aliás, a dramatização um tanto espetacularizada dos bastidores da política britânica é um dos fatores de adesão do filme. Isso se dá tanto na verve dos diálogos quanto na maneira de filmar a movimentação de Churchill em meio a seus pares. Em boa parte, é mais uma comédia de costumes do que um filme histórico. Gary Oldman (enfim como um oldman) mimetiza pormenorizadamente a voz tartamudeante do Primeiro-Ministro, com destaque para sua tentativa patética de falar francês, as diatribes no banheiro, o telefonema humilhante pedindo ajuda a Franklin Roosevelt e a súbita aparição num vagão do metrô. Já os tons soturnos da fotografia de Bruno Delbonnel se contrapõem a qualquer impressão de leveza, remetendo à “hora mais escura” a que se refere o título original.

Cabe especular por que esse momento da História tem recebido tanta atenção dos cineastas britânicos e americanos. A necessidade de reiterar a figura do herói, por sinal um herói complexo como Churchill e que mesmo assim soube unir as forças libertárias contra a ameaça nazista, talvez seja fruto do quadro histórico que vivemos hoje, com Brexit e Trump pondo em risco as conquistas da segunda metade do século XX.

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