Adoniran, o palhaço triste da Pauliceia

Descendente de imigrantes italianos, personificação do malandro paulistano, Adoniran Barbosa (1910-1982) é figura ainda pouco conhecida fora de um círculo relativamente restrito. A maior virtude do documentário ADONIRAN – MEU NOME É JOÃO RUBINATO é trazer o compositor a um luz mais ampla e despertar curiosidade sobre ele.

João Rubinato nasceu no Brás e trabalhou em tudo um pouco enquanto “fazia samba pelo caminho”. Suas letras tematizam com frequência a fome do estômago e os males do amor, matérias-primas da criatividade popular. Cultivou a picardia e a esperteza, chegando a enganar a data de nascimento da filha para não pagar multa ao cartório. Até o nome artístico foi tomado de empréstimo a um amigo Adoniran e ao sambista carioca Luiz Barbosa.

O diretor e roteirista Pedro Serrano é autor de um curta sobre Adoniran, Dá Licença de Contar, e teve acesso ao acervo pessoal do compositor, além de buscar depoimentos de parentes, amigos e colaboradores como os integrantes dos Demônios da Garoa, que gravaram seu repertório. Mas é o próprio Adoniran que pontua o filme com suas respostas tortuosas às perguntas de entrevistadores, algumas falas autobiográficas e performances em sua voz inconfundivelmente escangalhada.

O filme tem alguns problemas sérios. O roteiro, um tanto desorganizado, não consegue dimensionar a importância do personagem para a cultura de São Paulo e perde a oportunidade de fixar seus personagens como rádio-ator, faceta ainda menos divulgada do seu trabalho. As filmagens da São Paulo atual, que serviriam a um contraponto com a crônica musical feita por Adoniran, padecem de uma realização extremamente amadora e pseudo-informal.

De qualquer maneira, fica impresso um perfil relativamente proveitoso do autor de clássicos como Saudosa Maloca, Trem das 11 e Tiro ao Álvaro. Com seu “jeito certo de falar errado”, Adoniran foi o palhaço triste que Elifas Andreato quis desenhar na capa de um disco seu (imagem acima). A participação de Elifas, aliás, é um dos trunfos do filme, além do vídeo de Figlio Único, a inenarrável versão italiana de Trem das 11.

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