Herzog além das margens

Finalmente o Rio de Janeiro recebe uma grande mostra Werner Herzog. Serão 30 filmes em apenas 12 dias. Nenhum será repetido, o que demanda atenção e dedicação para quem quiser desfrutar desse excepcional conjunto de obras. Alguns são inéditos em circuito comercial e difíceis de encontrar em qualquer suporte. A mostra Herzog Além das Margens ocupa a Caixa Cultural entre 12 e 23 de dezembro. Veja aqui a programação.

Por muitas razões, Herzog é um dos cineastas mais atraentes do nosso tempo. Sua disposição para a aventura cinematográfica, seu interesse pelos extremos do espaço, do tempo e da condição humana e a forma pessoal com que conduz seus filmes o tornam praticamente único no mundo. Seja em documentários, seja em ficções, seus personagens são herzoguianos na medida em que se parecem com ele: ou super-humanos como Aguirre, Fitzcarraldo e a surda-cega Fini Straubinger; ou humanos menores como Stroszek e Kaspar Hauser. Titãs ou anões. Vou falar sobre isso na palestra que farei no dia 16, às 11h.

Com curadoria de Sylvia Palma e Filippo Pitanga, o evento vai ter também uma série de sessões seguidas de debate com os curadores e convidados, além de duas palestras (chamadas de masterclasses) comigo e com o crítico Marcelo Janot, esta no última dia da mostra, 23/12, às 11h.

Vale a pena destacar um trecho do release que reflete a apreciação dos curadores sobre a obra do diretor: “Werner Herzog tem meio século de carreira, mais de setenta filmes, inúmeras variações de registros audiovisuais, instigando e provocando o olhar tanto dos novos quanto dos velhos admiradores de seu trabalho, muitas vezes inclassificável, tamanhas a potência e atemporalidade de sua obra. Trabalha imagens grandiosas e os sentimentos profundos que elas provocam, através da experimentação, da inovação, da transgressão, da potência levada ao máximo da possibilidade humana. Ele soube dar voz à crueldade do mundo e da sociedade de modo a enredar seus personagens em teias que cerceiam ou mesmo aprisionam, mas também libertam. Essas características são levadas a cabo por uma inteligência rara, não desprovida de rigor e convicções estéticas.”

Além de grandes clássicos menos conhecidos da nova geração – como Aguirre, a Cólera dos Deuses, Fitzcarraldo, Nosferatu e O Homem Urso, a mostra traz filmes ainda menos vistos e igualmente extasiantes. É o caso de Coração de Cristal, meditação profunda sobre um mito germânico e visão profética do colapso do mundo industrial; ou de Terra do Silêncio e da Escuridão, mergulho comovente na condição de pessoas desprovidas simultaneamente de visão e audição. Há filmes rodados na África, na América do Sul, na Antártida, nos Montes Cárpatos, no Alaska, na Sibéria, no Saara,  em crateras de vulcões e de meteoros… Não há lugar extremo do mundo que não tenha sido vasculhado pela curiosidade do cineasta.

Para Herzog, a terra é mal feita, o mundo é incômodo, hostil e violento. Vários de seus filmes são a procura de um paraíso divisável apenas pelos grandes sonhadores. Ele próprio está sempre em busca de paraísos da expressão — ou seja, locações longínquas onde encontre correspondências para as viagens da imaginação. A beleza absurda e insólita que encontramos em filmes como Fata Morgana, Lições da Escuridão e O Diamante Branco refletem a procura de Herzog pelo que está além das margens do nosso conhecimento e do nosso sedentarismo.

Deslocar-se até a Caixa Cultural será um esforço menor para ver ou rever o vasto mundo de Werner Herzog. Veja aqui a programação.

Nos próximos dias vou publicar alguns textos sobre seus filmes. No blog já estão disponíveis resenhas de Os Delírios do Mundo Conectado e Visita ao Inferno.

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