Revi O Nome dela é Sabine e ratifiquei a impressão que tive no Festival do Rio de 2007. Trago de volta o texto que escrevi no DocBlog à ocasião:
Eis a primeira pergunta que me veio à cabeça ali pela metade da projeção de O Nome dela é Sabine: e se Sabine não fosse irmã da atriz Sandrine Bonnaire, qual seria nosso interesse por essa quase simplória exposição de um caso de autismo?
Pelas antigas cenas de filmes domésticos, somos levados a saber que Sandrine filmava a irmã doente há muito tempo – uma tentativa, talvez, de dividir com ela o papel de estrela que construía para si própria no cinema francês. Ou melhor, uma manifestação de carinho à sua maneira, uma pequena compensação. No longa-metragem, essas cenas ressurgem em slow motion, ao som de um piano dolente. O que era brincadeira de irmãs no passado vira memória dolorida no presente, já que Sabine não mais se relaciona com a câmera. Restou apenas uma carência, um pedido constante para que Sandrine esteja por perto. Sandrine, porém, não está.
Está a câmera, implacável no registro da irmã desequipada para a vida de adulta. Sabine comendo desajeitadamente, Sabine gritando sem mais nem menos, Sabine recusando-se a levantar-se do chão, Sabine babando sobre a mesa, Sabine chorando e rindo diante das imagens de uma Sabine 30 quilos mais magra e muito mais esperta no DVD do passado.
Sandrine, a irmã que se projetava nas telas enquanto a outra se obscurecia na enfermidade, insinua carregar uma culpa. Acusa a si mesma e à família de ter ajudado a destruir a moça doente, que acabou sendo internada por cinco anos desastrosos para seu estado geral. Sandrine purga a culpa angariando fundos para um lar de autistas, onde Sabine hoje vive junto com outros pacientes. Mas Sandrine está no filme de maneira muito indireta, como se se escondesse por trás da câmera. As cenas se sucedem sem muita variação, nem uma reflexão que as justifique por tanto tempo na tela. Sandrine parece não ter muito o que dizer sobre sua consciência pesada, nem sobre seu amor pela irmã. Ela escapa pelas bordas. Tem dificuldade em se comunicar.
Seu caso pode ser diagnosticado como autismo cinematográfico.