Nesta terça-feira, às 19 horas, na livraria Blooks (Unibanco Arteplex), o poeta, escritor e jornalista Ronaldo Werneck lança Kiryrí Rendaua Toriboca Opé – Humberto Mauro Revisto por Ronaldo Werneck. Com capa dura e 450 páginas numa edição caprichada da editora artepaubrasil (SP), o tijolo é uma homenagem de mineiro para mineiro – do poeta das palavras ao poeta da imagem.
Infelizmente, por estar fora do Rio, não poderei comparecer à noite de autógrafos, quando Ronaldo vai exibir dois filmes que fez sobre Mauro, sOLdade e Mauro Move o Mundo. Mas deixo com vocês o texto que honrosamente escrevi para as orelhas do livro:
Mauro, é claro
“Cataguases é cachoeira”, brincávamos velhos amigos ante a catadupa de poesia e histórias que Ronaldo fazia jorrar a propósito de sua nave-mãe mineira. No chorrilho passavam de Rosário Fusco a Paulo Martins, de Joaquim Branco a Guilhermino César, de Chiquinho Cabral a – é claro – Humberto Mauro. Daí a surpresa nenhuma com que recebo esse tributo integralmente dedicado pelo poeta da letra ao poeta da imagem.
Mauro, é claro. Não esperava menos de Ronaldo. Não esperava análises puramente teóricas, nem meros rigores históricos de quem apreciou o mestre com a inteligência do coração. Ronaldo domina em detalhes a produção e a estética maureanas, mas não faz disso um cavalo de batalha. Culto, carinho e conhecimento são aqui indissociáveis.
Ronaldo de fato conheceu Mauro, não apenas teve notícia (para usar uma distinção que ele faz ao falar de Eva Comello/Eva Nil). Sempre que pôde, ainda que começando tarde, ouviu-o com dedicação filial, encontrando na fala o filme, e no filme a fala. Recolheu declarações e blagues deliciosas, únicas, que vieram enriquecer tanto a biografia como o mito de Mauro.
Surpresa nenhuma em encontrar o doce alquimista de palavras ocupado com as coisas do doce cineasta. Sobre Mauro, Ronaldo já se manifestou em muitos formatos, segundo sua pena versátil: artigos biográficos, memórias próprias, crônicas, entrevista em forma de roteiro, depoimentos, palestras, textos para catálogos e exposições, resenhas de livros alheios e, é claro, poema. Este livro nada mais faz que partilhar conosco o rico “acervo pessoal” que ele constituiu a respeito do “pai do cinema brasileiro” e de seu entorno.
Livro de livros, nele Ronaldo “folheia” outros volumes, destaca trechos que marcou com amorosa caneta, resgata perdidos thesouros orais de e sobre Mauro, publica inéditos, consulta lembranças, reabre questões. É bom vê-lo dialogar com textos de Paulo Emílio Salles Gomes, copidescar Ely Azeredo, citar Glauber Rocha. O escritor não se coloca a salvo na guarita da exclusividade, mas se situa no entroncamento do seu tema. Vá em frente, leitor, e veja Ronaldo Werneck bem dentro do jorro que Humberto Mauro inspirou a todos os que rimam cinema com poesia.
Setembro de 2006