O anunciador de Montes Claros

Para quem anda sentindo falta dele no Rio, é bom saber que Paulo Henrique Veloso Souto está sadio e feliz de volta a sua terrinha natal, Montes Claros, no norte de Minas. É aquela paisagem que conhecemos principalmente dos filmes de Carlos Alberto Prates, com quem Paulinho começou a tomar gosto pelo cinema nos anos 1960. Filho pródigo, ele retornou há poucos meses depois de 35 anos no Rio. Pra variar, já está metido até o pescoço no cinema de lá. Hoje começa a 1ª Mostra de Cinema de Montes Claros. Paulinho é consultor de relações públicas do evento.

Parte importante – e bem engraçada – da história do cinema brasileiro dos anos 70 a 90 tem a participação de Paulo Henrique como divulgador, agitador e, de vez em quando, ator coadjuvante. Figura popular, querida dos jornalistas do setor, exceto quando eles não tinham tempo para atender a suas persistentes “cantadas” profissionais, Paulinho marcou época com suas iniciativas às vezes pouco ortodoxas. Ele lembra que, logo ao chegar ao Rio, em 1977, depois de cursar Relações Públicas em Belo Horizonte, assumiu a divulgação do lançamento de A Queda, de Ruy Guerra. Por conta própria, saiu distribuindo ingressos para os dubladores, classe que passava por duro perrengue financeiro. O Cine Pax lotou de dubladores e a notícia correu de boca em boca.

Na estreia de A Lira do Delírio, num cine Palácio abarrotado de gente, ele fez Bernardo Bertolucci repetir diante das câmeras de TV os elogios que fizera no dia anterior entre amigos brasileiros. Quando A Noiva da Cidade, de Alex Viany, estava sendo exibido em BH pela primeira vez, sua ideia foi colocar Elke Maravilha parada em frente ao hotel na Avenida Afonso Pena e esperar o trânsito parar.

Era uma época sem vídeos virais ou altos orçamentos de comercialização, em que a criatividade e a improvisação contavam mais que tudo. Nisso Paulinho era um craque. Corria redações e estações de rádio e TV fazendo campanha para a Erêndira de Ruy Guerra derrotar o Rambo do Stallone. Levou Lucélia Santos grávida de oito meses para conclamar a tradicional família mineira a prestigiar Luz del Fuego, de David Neves, no mesmo cinema de onde a dançarina tinha sido expulsa no passado.    

Ele recorda:

– Foram muitas viagens país afora. Os jornais tinham grandes sucursais em todas as capitais, quando hoje têm um correspondente, e olhe lá. Eu levava o ator ou diretor às redações de norte a sul, junto com os slides e pressbooks impressos. O Brasil já teve uma distribuidora, a Embrafilme, que lançava mais de cem títulos por ano. No Departamento de Publicidade e Propaganda da empresa, convivi com Zé Antonio Pinheiro, Maria Aparecida Braga (a Cuca) e mais Fernando Pimenta, Antonio Jaime, Luiz Mauricio Azedo. Fomos demitidos em pleno trabalho no Festival de Gramado. Depois Alberto Shatovsky me levou pra a Gaumont do Brasil, onde lancei títulos franceses maravilhosos.

Graças a seus contatos na Riofilme de outros tempos, o simpaticíssimo doc Rio de Jano, de Anna Azevedo, Eduardo Souza Lima e Renata Baldi, deixou de ser um simples pojeto de curta e se transformou no longa que bem conhecemos.

O trabalho em diversos filmes como produtor de set deu a Paulo Henrique uma intimidade com o fazer cinematográfico que raros divulgadores têm. Ele continua exercendo a função de publicista e relações públicas, como faz agora para essa mostra no sertão montesclarense. Lá ele dirigiu seu único filme, o curta Aníbal, um Carroceiro e seus Marujos (1980), sobre os festejos populares da cidade.

Como ator bissexto, não fazia feio quando os diretores o colocavam diante da câmera. Em O Homem da Capa Preta, ele vive um diretor de redação do jornal de Tenório Cavalcanti. Em Cabaret Mineiro, do qual foi produtor executivo, fez um fazendeiro cercado de lindas mulheres. Interpretou também um soldado rebelde em Quilombo, um deputado escroto em Um Trem para as Estrelas, um homossexual atrevido entre bicheiros em O Rei do Rio, um sacristão em Os Marginais, e por aí afora, em mais de 70 filmes pela sua conta. Recentemente apareceu nos novos longas, ainda inéditos, de Tizuka Yamazaki e Elizeu Ewald.

Em Montes Claros, aos 65 anos e 10 depois de uma cirurgia em que trocou a válvula mitral do coração pela de um porco, Paulinho se diz contagiado pelo entusiasmo dos jovens organizadores da mostra.

– Dizem que sou pé quente. Espero contribuir mais ainda pelo cinema brasileiro, tão carente de janelas. Essas mostras ajudam a despertar o prazer pelo cinema nacional. O sertão vai virar kinema.

12 comentários sobre “O anunciador de Montes Claros

  1. meu tio amado e me tinha como afilhada
    Polique quanta falta vai fazer a sua sinceridade. Vc me incentivou muito
    como carinhosamente falava filha..
    Te amo

  2. Esta longa metragem leva o nome do meu querido avô Aníbal carroceiro e seus Marujos , gostaria muito de obter uma cópia deste filme já q leva o nome de membros da nossa família , eu a 22 anos sigo a tradição deixada pelo meu querido avô Aníbal .

  3. Paulinho, no nosso coração. Vou detalhar sua participação no “Entre Macacos e Anjos”, no Face book. VC merece!!! Abs. EE

  4. Vi que sabia pouco desse ser diferenciado, generoso, criativo. Bastava-me suas conversas interessantes e afetuosas, mas agora estou mais encantada ainda. Gratos todos pelas homenagens e descrições de seus trabalhos. E viva nosso Paulo Henrique!

  5. Querido Carlinhos ! Escrevi um longo texto sobre o nosso querido PH, relatando seu carinho e dedicao no lanamento de alguns filmes meus. Mais uma vez no consegui postar.No h um boto para PUBLICAR, h uns cones de twitter, facebook e mais outro.Claro que optei pelo Face – que o que tenho.Depois de esperar muitos minutos avisam que no foi realizado com sucesso.E assim foi tb nas novas tentativas….Desisto ! No tem como vc aperfeioar isso ? Est explicado pq no h nenhum comentrio alm do persistente e profissional PH. Bjs, Bigo.

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