GATOS é um estudo de personagens. Esgueirando-se pelas ruas e telhados de Istambul, conhecemos a mãe devotada em trazer alimentos para os filhotes, a psicopata ladra de peixes, o implacável caçador de ratos de um restaurante, o aristocrata da delicatessen. Vemos as trocas de unhadas em disputas de território e a entrega sedosa aos chamegos dos passantes. A população felina da metrópole turca vive melhor que muitos humanos por ali.

Mas esse adorável documentário de Ceyda Torun é ao mesmo tempo um estudo de personagens humanos, os que se dedicam a cuidar dos gatos da cidade. Surgem, então, o comerciante que tira proveito da garra anti-roedores do bichano, o homem que acredita no poder mágico dos gatos, a mulher que curte o contato com seres de outra natureza, as várias pessoas que sentem os gatos absorver suas energias negativas e emanar positivas. Cuidar dos gatos de rua, para os istambulitas, é mais que uma missão. É uma terapia e uma filosofia.

GATOS é, ainda, um passeio magnífico por Istambul, seja em planos aéreos, seja com a câmera rastejando no encalço dos animais. Alguns deles merecem closes fabulosos, capazes de balançar o coração mesmo de quem, como eu, tem larga preferência pelos cachorros. Para quem ama os gatos, então, é paixão ao primeiro plano. Para um crítico de documentários, fez falta um mínimo de informação que contextualizasse histórica e etnograficamente aquele vínculo tão especial entre as duas espécies.