O documentário de observação é levado a um certo impasse em CORPO DELITO, de Pedro Rocha. Uma câmera quase sempre fixa acompanha o cotidiano de três amigos na Favela dos Índios, em Fortaleza. Todos estão à deriva, sem ocupação nem projeto de vida, e frequentam as bordas da criminalidade. O mais jovem se cura de um tiro na perna, outro entra na maioridade sustentado pela mãe. O personagem principal é o mais velho dos três: Ivan passou oito anos na cadeia e agora está no semi-aberto com tornozeleira eletrônica. Ele não se conforma com esta prisão dentro de casa. Há ainda uma mãe que visita o túmulo do filho, morto no crime.
O dispositivo armado para observá-los necessita de atos, fatos e relatos que aprofundem minimamente o conhecimento deles pelo espectador. O que vem, no entanto, é bem pouco se comparado com os longos trechos de silêncio, conversa fiada, festinhas e bailes. A atitude observacional está lá, com razoável acesso às intimidades, principalmente de Ivan e sua família, mas a colheita é parca.
O que de melhor se colhe, afinal, é um retrato da inércia juvenil na periferia. Imaginários ocupados pela violência e os fetiches de consumo. Além da simples estupidez que alimenta a superlotação dos presídios e a tragédia penitenciária brasileira.