MUSSUM – UM FILME DO CACILDIS

Eu nunca achei graça nos Trapalhões, mas Mussum era o único que conseguia me arrancar algumas risadas esporádicas. O filme de Susanna Lira me ajudou a entender a razão. MUSSUM – UM FILME DO CACILDIS mostra como as verves de sambista e humorista se encontravam em Antonio Carlos Bernardes Gomes (1941-1994). O molejo malandro do mangueirense e a palhacice do trapalhão se integravam perfeitamente.

Uma natural simpatia pelo personagem percorre cada bloco dessa cinebiografia de padrão convencional. A simpatia prevalece mesmo quando Joel Zito Araújo intervém com sua cunha crítica em relação aos estereótipos racistas veiculados na televisão, especialmente na caracterização de Mussum. O tema é rapidamente diluído pela imagem do cara boa praça, filho dedicado, pai rigoroso (apesar de pródigo em companheiras) e símbolo de uma certa ideia de brasilidade.

MUSSUM conta sua história, da infância humilde aos trabalhos de mecânico e cabo do Exército, daí ao sucesso com Os Originais do Samba e ao chamado para integrar o quarteto de Renato Aragão, passando pela origem do apelido na boca de Grande Otelo. O roteiro acerta ao criar paralelos divertidos entre passagens da vida de Mussum e trechos de programas dos Trapalhões. Mas a intenção de elogiá-lo incide no exagero quando o locutor (Lázaro Ramos) afirma que o disco do grupo com Jair Rodrigues “revolucionou a música no Brasil”. O texto da narração, aliás, investe alto num modelo já bastante gasto, tributário da lógica acumulativa da narração de Ilha das Flores.

Na produção eclética de Susanna Lira, MUSSUM se enquadra nos filmes sobre a indústria cultural (Clara Estrela, Damas do Samba), que costumam ser menos vigorosos que seus filmes político-sociais (Intolerância.doc, Torre das Donzelas). De qualquer maneira, é prova de uma produtividade invejável e de uma fervorosa dedicação ao documentário.