O TRADUTOR
Os créditos finais de O TRADUTOR trazem uma informação relevante sobre o vínculo entre os diretores Rodrigo e Sebastián Barriuso e os personagens centrais do filme. Isso, se não é sabido antes, nos faz reconsiderar o que acabamos de ver. Até certo ponto, pelo menos.
E o que vimos antes foram os dilemas de um professor de Literatura Russa (Rodrigo Santoro) na Cuba de 1989, escalado para servir de intérprete para vítimas de Chernobyl num hospital de Havana. A hesitação inicial dá lugar a uma dedicação profunda de Malin às crianças enfermas, ao mesmo tempo que o faz negligenciar um pouco a sua própria família. O tom é de melodrama, com intenções às vezes lacrimejantes e uma trilha sonora insistente nesse sentido.
A Havana que vimos antes era um tanto idealizada antes do fim da União Soviética, com supermercados de prateleiras lotadas, gente com roupas elegantes, peças de design requintado (a esposa de Malin é artista plástica) e poucos negros na cena. Tudo isso para gerar um contraste maior com a penúria que se estabelece após 1989, com a perda da ajuda dos russos. O chamado “Período Especial” reflete-se na vida do casal e aprofunda os impasses de Malin.
O que falta mesmo a O TRADUTOR é o sentimento de Cuba, o espírito do povo que nunca transparece sob as imagens bem compostas e bem comportadas que mais sugerem uma comunidade canadense (coprodutores do filme) do que a descontraída ilha caribenha.
Particularmente interessante é o quadro que o filme apresenta da atuação da Medicina cubana no atendimento às vítimas de Chernobyl – programa que se estendeu até 2011, bem além do vínculo soviético. Outro trunfo desse filme mediano é a interpretação muito interiorizada e convincente de Santoro, mais eficaz ao falar russo do que o espanhol com sotaque cubano.
Concordo plenamente. Acho que a casa do tradutor, mesmo a esposa sendo artista plástica nunca seria uma casa cubana. Deve ser uma casa canadense.
Os diretores exploram muito a figura de Santoro que faz pose diante da câmera
Não achei que o Santoro faça pose. Ele interioriza bem o personagem. E é, sem dúvida, a estrela do filme.