Não faz muito tempo que descobri esse tesouro na internet. As 25 edições dos Cadernos de Antropologia e Imagem estão disponibilizadas na íntegra no site do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UERJ. Eu já fiz o download para o meu HD e aconselho aos precavidos que façam o mesmo, pois a maré bolsonarista nas universidades promete não deixar pedra sobre pedra.

Pedi à sua criadora e editora, a mestra em Antropologia Social Patrícia Monte-Mór, que nos apresentasse os Cadernos com suas próprias palavras. Patrícia, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, fundou e coordenou a memorável Mostra Internacional do Filme Etnográfico, que entre 1993 e 2013 realizou 15 edições e trouxe ao Brasil nomes como Jean Rouch, David MacDougall, Pierre Perrault, Paul Henley, Rahul Roy e Saba Dewan. Em 1994, foi convidada pela UERJ a desenvolver essas discussões no então Departamento de Ciências Sociais, quando seu grupo criou o NAI – Nucleo de Antropologia e Imagem e, em 1995, a revista.

Com a palavra, Patrícia: 

A Revista Cadernos de Antropologia e Imagem foi criada em 1995, como uma publicação do NAI – Núcleo de Antropologia e Imagem da UERJ/Departamento de Ciências Sociais, hoje ICS (Instituto de Ciências Sociais) e ganhou a parceria da pós-graduação (PPCIS) em 1997.  Ela surgiu num momento em que a disciplina antropológica fazia um movimento de olhar para si, seus métodos e técnicas, num repensar da Antropologia.

Na apresentação do primeiro número da revista, formulava-se: “É curioso mencionar que paralelamente a esse movimento de olhar para si, surge o interesse por um campo ainda pouco difundido no Brasil – a Antropologia Visual”.  Antropólogos passavam a valorizar também outras fontes de informação para suas pesquisas e mesmo outras formas de narrativa para apresentar seus resultados de pesquisa.  A imagem aparecia como uma descoberta. O diálogo com o cinema, o vídeo, a iconografia, a fotografia, a linguagem digital se desenvolvia. Era preciso investir nesse campo.

Cadernos de Antropologia e Imagem nasceu e se fortaleceu com o objetivo de fornecer aos estudantes e pesquisadores literatura especializada e inovadora no diálogo entre a Antropologia e a Imagem para a produção acadêmica e a pesquisa de campo. Transformou-se em bibliografia básica adotada pelos diversos cursos e disciplinas criadas nas universidades brasileiras. A revista aglutinou uma variedade de autores e pesquisadores de áreas afins. Durante 12 anos Cadernos foi o único periódico brasileiro de divulgação da Antropologia Visual nacional e internacional. Revista que mereceu nível A da CAPES e apoio do CNPq, foi publicada em 25 números, de periodicidade semestral.  Está hoje acessível aqui.

O conjunto de edições, agora digitalizado, vem dar mais um passo em seu objetivo original de traduzir e divulgar literatura especializada no campo da Antropologia Visual e assim estimular a continuidade dos trabalhos pelas novas gerações.

Patrícia Monte-Mór, editora