Esporte e magia oriental
por Paulo Lima
Houve uma época em que a excelência no vôlei mundial era sinônimo de Japão. Do país asiático vinham as técnicas que iriam influenciar e transformar aquela modalidade esportiva.
Imprimir a excelência japonesa na competição renhida do vôlei resultou de um trabalho árduo de dedicação e treinamento que durou quase duas décadas. Tudo teve início em 1950, quando um grupo de operárias de uma fábrica de tecidos de Tóquio passou a receber uma preparação espartana, esforço que culminou com o ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964, em disputa contra o bicho-papão, a URSS.
O documentário As Bruxas do Oriente (Les Sorcières de l’Orient), produção francesa dirigida por Julien Faraut, se debruça sobre a façanha das jovens operárias que formavam na época o time Nichibo Kaizuka, base da seleção japonesa.
Faraut reuniu algumas daquelas atletas, hoje senhoras na casa dos 70 anos, para relembrar aquela fase épica do vôlei japonês. Em torno de um almoço, as venerandas e elegantes mulheres voltam no tempo e desfiam seus feitos extraordinários.
A rotina de treinamento, sob o comando do técnico Daimatsu, ocorria no próprio interior da fábrica, após a jornada de trabalho, e podia se estender até a madrugada. Pelos resultados assombrosos obtidos nas quadras, com uma sequência invicta de vitórias, as atletas operárias receberam o apelido de “Bruxas do Oriente”.
O filme explora esse imaginário de magia ao introduzir imagens de mangá, o desenho japonês, como parte da narrativa, combinadas com registros de arquivo. A atmosfera dos quadrinhos imprime um tom divertido e emocionante de invencibilidade heroica, que é típico desse gênero.
O documentário contextualiza o sucesso do vôlei japonês representado por aquela seleção de ouro formada por operárias. Havia da parte do governo japonês o objetivo de utilizar o êxito no esporte como um “soft power” que atuaria como vitrine do crescente progresso econômico do Japão no pós-guerra.
Neste sentido, esporte e política se entrelaçaram em nome de uma pujança econômica que atravessaria décadas, quando o Japão perde a primazia de grande locomotiva econômica do Oriente para a China.
O esforço das jovens “bruxas” contribuiu para soerguer não só a imagem do seu país, como também elevou o sentido de força e resistência a outro patamar, numa história tão incrível quanto mágica.
Paulo Lima
>> As Bruxas do Oriente está na plataforma Mostra Play.