Dois docs para ver rapidinho

Comento aqui dois interessantes documentários de média-metragem que podem ser vistos na rede: FAKE NEWS MADE IN BRASIL e DO OUTRO LADO DA COZINHA

O tema fake news não é mais nenhuma novidade, mas sua permanência na vida nacional requer atenção redobrada. Fake News Made in Brasil, de André Fran e Rodrigo Sebrian, repassa o assunto pelos vieses da investigação, da análise e do combate. No primeiro bloco, os diretores fazem o contraste entre, de um lado, a jornalista Helena Borges, que investigou em profundidade a propagação de notícias falsas, e Monica Benício, ex-companheira de Marielle Franco, e de outro o criador de um site acusado de espalhar desinformação. Ver este homem, por sua vez, posar de “alvo” e “vítima” ganha um acento irônico especial.

No quesito da análise, temos as participações de Pablo Ortellado e Muniz Sodré. Este último chama a atenção para a ausência de “mediadores confiáveis” na batalha entre verdade e mentira em tempos de redes sociais. “Vivemos na democracia das emoções”, diz Sodré, onde as paixões políticas somadas a informação de baixa qualidade tumultuam a ética social.

Para falar de combate, os realizadores convocaram o ministro Luiz Fux, que explica as iniciativas das altas cortes para minimizar o efeito das fake news, e os responsáveis por três plataformas de checagem de fatos. Uma luta difícil, que requer dedicação diária e estratégias diversas de contestação das notícias falsas e conscientização do público. É fato que as diferenças entre a mídia tradicional e a mídia independente acabam empalidecendo diante do alcance e imediatismo das redes sociais.

Esse pequeno dossiê documental é pobre tecnicamente, mas resume questões importantes às quais precisamos estar atentos e fortes.

>> Fake News Made in Brasil está na plataforma Curta!On


O Outro Lado da Cozinha é um manifesto de amor entre classes diferentes, no qual a boa consciência branca e burguesa se redime por soar como um legítimo interesse em bases recíprocas. A diretora Jeanne Dosse, filha da atriz Juliana Carneiro da Cunha, vai ao encontro de sua antiga babá negra Zelita Sevilha da Silva. Jeanne e seus irmãos passaram a infância aos cuidados de Zelita e convivendo fraternalmente com a filha dela, Cristina. Depois a família se mudou para a França, rompendo um laço afetivo já consolidado.

No entanto, ao que Jeanne dá a entender, o carinho mútuo nunca deixou de existir. Vídeos antigos testemunham as frequentes visitas dos ex-patrões a Zelita. O filme, de 2013, se apropria dessa relação para sondar o complexo vínculo entre patrões e empregadas domésticas: o apartheid social na mesma casa e nos edifícios, os limites da condição de “membro da família”. De maneira delicada, Jeanne faz esse balanço no âmbito da sua própria família e de personagens coadjuvantes.

Um filme às vezes comovente e talvez perturbador, que modestamente se alinha à estirpe de Santiago, de João Moreira Salles, e Babás, de Consuelo Lins. Está disponível gratuitamente no Vimeo:

4 comentários sobre “Dois docs para ver rapidinho

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