IMPÉRIO DA LUZ
O cinema Empire, na cidade litorânea de Margate, Inglaterra, já tinha visto dias melhores. Seus andares superiores outrora abrigavam um salão de baile, um restaurante e um café-bar. Hoje estão praticamente abandonados. É 1981, e a decoração das salas ainda tem resquícios de suntuosidade, mas o lugar está decadente. Seu administrador (Colin Firth) enxerga uma chance de reerguimento ao organizar uma pré-estreia de gala de Carruagens de Fogo. É a ocasião para o clímax dramático de Império da Luz (Empire of Light), um filme sobre o poder restaurador do cinema e das conexões humanas.
Tanto quanto o Empire, seus personagens centrais são a gerente Hilary (Olivia Colman), mulher solitária e bipolar, e o novo funcionário Stephen (Micheal Ward), vítima do racismo que grassa na cidadezinha provinciana em tempos de skinheads. O roteiro original do diretor Sam Mendes é bastante romanesco na condução desse drama doce-amargo que vai reunir duas almas “excluídas” num círculo de afeto e cuidado, mas também de sentimentos conflitantes.
Olivia Colman empresta sua fisionomia ultra-humana a um papel razoavelmente complexo. Hilary depende de remédios, já esteve internada e, por pura carência, mantém uma relação abusiva com o administrador do cinema. A chegada de Stephen vai mexer com seu metabolismo mental, para o bem e para o mal.
Império da Luz é um filme tão bem comportado quanto suas mensagens de gentileza e compreensão mútua. Realizado durante a pandemia, pretende resgatar o poder agregador das salas de cinema. A bela fotografia de Roger Deakins (única categoria indicada ao Oscar) aquece a temperatura emocional, assim como a trilha original delicada de Trent Reznor e Atticus Ross, entremeada por referências à cena musical do início da década de 1980.
Os personagens coadjuvantes, como o projecionista orgulhoso do seu ofício, a jovem faxineira meio punk e o bilheteiro simpático, são pequenos clichês que ajudam a manter o quadro de pé. Ao fim e ao cabo, o filme fica parecido com o Empire. Funciona bem no essencial, mas tem espaços ociosos e nenhum glamour. A citação final, de Peter Sellers em Muito Além do Jardim, sela as intenções modestas de um Sam Mendes que já foi mais ambicioso.
>> Império da Luz está na plataforma Star+.