JAIR RODRIGUES – DEIXA QUE DIGAM
Desde que Jair Rodrigues (1939-2014) concordou em fazer um papel dramático no seu filme Super Nada, o diretor Rubens Rewald (não confundir com o crítico Rubens Ewald Filho) alimentou o desejo de fazer um documentário sobre o próprio Jair. O cantor faleceu poucos dias depois da decisão tomada. O filme virou póstumo, mas não menos celebratório do sambista esfuziante.
O modelo é o biográfico convencional, feito para louvar as virtudes do personagem. Menino da roça no interior de São Paulo, engraxate e alfaiate antes de se lançar em programas de calouros, bares e boates, Jair Rodrigues de Oliveira nunca perdeu o jeito de moleque, simples e sorridente, gestos largos e entrega corporal às performances. Quando estourou com Elis Regina em O Fino da Bossa, juntaram-se os dois maiores sorrisos da MPB.
O retrato é de um cara família, agenciado no início da carreira por um irmão paternal e produzido no final pelo filho devotado, o também cantor Jair Oliveira. Sua história é contada, em parte, pelo filho, que o imita na primeira pessoa, dirigido por Rubens Rewald. A filha também é cantora, a bela Luciana Mello. No fim das contas, uma biografia onde não há fissuras ou conflitos. Nem mesmo o racismo brasileiro parece tê-lo atingido diretamente.
A falta de um posicionamento político explícito, mesmo quanto à questão racial, é minimizada por todos os que falam dele no filme. O historiador e músico Salloma Salomão aconselha a procurar a negritude de Jair nas suas canções, embebidas no candomblé e na África, muitas delas criadas por compositores populares negros. Partindo do samba, Jair passeou pela Bossa Nova e o sertanejo, chegando a ser reconhecido como um precursor do hip hop.
Feito com carinho e boa pesquisa de materiais de arquivo, o documentário tem simpatia suficiente para compensar sua fatura padronizada.
>> JAIR RODRIGUES – DEIXA QUE DIGAM está nos cinemas.