Agora só tem mais dois fins de semana para ver Formas Breves, o novo espetáculo (ou exercício) de Bia Lessa.
Bia foi referência da revolução dos encenadores no teatro brasileiro nos anos 1980 e 90. Depois voltou-se para uma certa teatralização de exposições, desfiles de moda etc. Em Formas Breves ela volta ao teatro puro, marcado por um vocabulário que rapidamente associamos a ela: cenografia serialista, um certo risco cênico, a ponte entre literatura e teatro.
O exercício é fruto da parceria entre mãe e filha. Maria Borba e Bia Lessa parecem mesmo ter nascido uma da outra. Na enorme caixa cênica do Teatro Tom Jobim, o chão está forrado por um emaranhado de roupas pretas que lembra o museu de Auschwitz – ou “o quarto do meu filho”, como disse uma amiga minha. Os 21 atores ocupam apenas uma estreita faixa que corta esse mar de roupas, desenhados pela luz de Pedro Farkas e engolidos pelo vazio negro do resto. É um grande espaço virtual onde pendem fios e se projetam textos complementares ao que é dito em cena.
E o que se diz? Fragmentos de Dostoiévski, Tchecov, Thomas Bernhard, Kafka, Sérgio Sant’anna, Anaïs Nin, Pedro Almodóvar, Walt Whitman, Antonin Artaud, Elias Canetti, Bertolt Brecht, Marguerite Duras, Balzac… Talvez não seja o caso de buscar um sentido fechado para essa coletânea que varia entre o irrisório, o sublime e o exasperante. Melhor deixar-se levar pela liberdade que Bia Lessa sempre se concedeu e a que sempre nos convidou em suas peças. Da liberdade vêm a surpresa e o prazer de ver algo que parece se inventar continuamente diante de nós.
Maria Borba tem uma espécie de segundo parto ao ser projetada pela mãe para dentro do palco. Cosmóloga de formação, ganha momento de estrela ao posar e cantar numa cena que lembra o famoso nu de Brigitte Bardot em O Desprezo de Godard.
Veja mais fotos de Formas Breves (Lenise Pinheiro/UOL)