Cheguei dois dias depois de iniciado o 25º Cine Ceará e aconteceu a “tragédia” que sempre temo nesses casos: perdi os filmes afinal mais premiados. Foi o caso de O Clube (foto acima), de Pablo Larraín, que conquistou o troféu Mucuripe em quatro categorias principais: Melhor Longa-Metragem, Roteiro, Ator – o prêmio foi concedido para todo o elenco masculino, do qual participa um ator chamado Roberto Farías – e ainda o Prêmio da Crítica (júri Abraccine).
O segundo filme mais premiado foi Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa, vencedor em três categorias: Fotografia, Direção de Arte e Som. Jauja confirmou o culto a seu autor, Lisandro Alonso, distinguido com o prêmio de Melhor Direção, enquanto o espanhol (basco) Loreak levou o troféu de Melhor Atriz (Itziar Ituno, popularíssima no festival). Já o cubano A Obra do Século conquistou Melhor Edição e Trilha Sonora Original. Cordilheiras no Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro, de Geneton Moraes Neto, recebeu um merecido Prêmio Especial do júri.
Um evidente equívoco do júri foi conceder o prêmio de direção de arte a Cavalo Dinheiro. Simplesmente porque a cenografia do filme é feita sobretudo com a luz. O diretor de fotografia, Leonardo Simões, presente no Cine Ceará, confirmou que esse trabalho não tem um destaque específico nos filmes de Pedro Costa. Ao subir ao palco para receber o prêmio representando a equipe, ele sorriu, irônico, e disse: “Direção de arte?! Nós todos fizemos isso”. Ainda bem que ele levaria para casa o seu próprio prêmio de melhor fotografia, esse sim bem justo.
O júri de curtas espargiu seus cinco prêmios entre cinco concorrentes. Kyoto, de Deborah Viegas (SP), ficou com o de melhor filme, enquanto a crítica premiou Quintal, de André Novais (MG). O melhor curta da mostra Olhar do Ceará foi “Alguns Páreos em Palermo”, de Gabriel Silveira. Não vi nenhum deles. Dos curtas premiados vi somente o baiano Feio, Velho e Ruim, de Marcus Curvelo.
Estreia hoje (quinta) às 22h no Canal Futura o média-metragem LEVANTE!, realizado em parceria por Susanna Lira e o inglês Barney Lankester-Owen. O doc consiste de uma série de reportagens sobre o uso de novas mídias e das redes sociais na transmissão e recepção de manifestações populares em várias partes do mundo. Temos, então, a atuação da Mídia Ninja com seus smartphones no Brasil, o que em 2013 provocou o primeiro grande pico de utilização do aplicativo japonês Twitcast; o movimento #YoSoy132 do México (2012), quando universitários conseguiram grande apoio da população a partir do uso criativo das redes; na Faixa de Gaza conhecemos duas jovens engajadas na divulgação dos horrores sofridos pelos palestinos, uma através de um canal do Youtube, outra de pequenos vídeos confessionais no Twitter; e o Umbrella Movement de Hong Kong (2014), contrário à manipulação das eleições pela China, amplamente filmado por um drone para um canal de TV – a ponto de gerar uma estética de massa apta a ser registrada do alto. Em cada um desses segmentos há cenas dramáticas, confrontos violentos, bombardeios, etc, mas o foco está nos indivíduos (jovens) e na tecnologia cada vez mais portátil que faz da luta política, hoje, um emaranhado de mídias e uma mídia de muitos.
Voce e um campeao, Carlos Mattos, grande reportage dos filmes que voce nao viu, sem ironia, e o recado esta dado. A cornucopia cinefila aumenta a cada dia. Que hacer?
“Um evidente equívoco do júri foi conceder o prêmio de direção de arte a Cavalo Dinheiro”. Outro (grave) equivoco terá sido o de premiar a direção afetada e desafetivada de “Jauja”, elevada à categoria “cult” talvez porque insólita e na contra-mão do cinemão. Nessas horas chego a preferir o (bom) cinemão ou rever antigas ousadias – de fato – como as de Resnais há mais de 50 anos (e de outros reais recriadores da linguagem cinematográfica).
Tamo junto nessa, Gallego.