O homem de más qualidades

P.I. – PANORÂMICA INSANA

O mundo é um horror oferecido diariamente como espetáculo. Na mídia, na guerra, nas catástrofes, na vulgaridade perversa dos homens. É sobre isso que fala (ou melhor, grita) PANORÂMICA INSANA (PI), a peça que Bia Lessa encena a partir de textos de Julia Spadaccini, Jô Bilac e André Sant’anna. Estreou semana passada no novo Teatro Prudential, no Rio, engolfando quatro atores deslumbrantes num mar de roupas.

Assim como em Grande Sertão: Veredas, o eixo cênico de PI é a mutação constante dos atores. Cláudia Abreu, Leandra Leal, Rodrigo Pandolfo e Luiz Henrique Nogueira assumem, com velocidade espantosa, uma cornucópia de identidades mediante a troca ou simples manuseio de peças de roupa, recolhidas, ora ao acaso, ora premeditadamente, do oceano têxtil que compõe todo o cenário. A cada momento, eles são outros e outros e outros: refugiados, sobreviventes, vítimas fatais, burguesinhos escrotos, mendigos, demagogos, impostores, convertidos, priápicos, neuróticos, apocalípticos.

PI passa em revista o homem de más qualidades contemporâneo com humor rascante e ao mesmo tempo com uma tragicidade implacável. Porque a morte, afinal, é o tema recorrente, epíteto sem glória de vidas sem sentido. A gente ri e se emociona, carregados pelo ritmo alucinante das performances, que vão da standup comedy à coreografia simétrica, da aparente anarquia ao jogo de cena mais rigoroso. O tecido musical costurado por Dany Roland e Estevão Casé é um deleite ininterrupto.

O horror dos nossos dias encontra no palco sua caricatura feroz e desconcertante. Uma catarse da qual a plateia, num certo momento, é convidada a participar. Leve seu grito, portanto, e veja o teatro em plena potência.

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