Não é por minha irmã Monique dividir a direção com Hamilton Vaz Pereira, mas 5 X COMÉDIA só não diverte as pedras das calçadas do Leblon. Em cartaz somente até este domingo, a nova edição dos esquetes põe em contraste o grande espaço cênico do Teatro Casa Grande com o minimalismo do monólogo. Mas é surpreendente como cada intérprete povoa completamente a cena com seu talento e seus interlocutores invisíveis.
Apesar da harmonia entre textos e direção, em cada esquete ressalta um aspecto em especial. No primeiro, escrito por Julia Spadaccini, é a versatilidade vocal de Débora Lamm como uma Branca de Neve às voltas com os rumos atuais dos contos de fadas. No segundo, de autoria de Antonio Prata, é o hilário desenvolvimento da situação em que um pai algemado (Bruno Mazzeo) tenta explicar à delegada o calvário com o filho bebê que o levou até ali. Em outro, criado por Jô Bilac, destaca-se a performance vocal e corporal de Fabíula Nascimento como uma arara revoltada contra sua condição de pária numa pet shop. Já o esquete de Pedro Kosovski é aquele em que todos os elementos melhor se encaixam: a inventividade do texto, a concepção cênica e o histrionismo de Thalita Carauta no papel de uma figurante ansiosa por dar o melhor de si. Por fim, é a imaginação do espectador que ganha o melhor presente do texto de Gregório Duvivier em que Lúcio Mauro Filho precisa aceitar a surpresa de chegar em casa e encontrar sua mulher atriz envolvida numa bela suruba da qual só vemos o marido atarantado.
Cheia de referências à cultura de massa e algumas à política atual, o espetáculo, porém, ao contrário de tantas comédias populares, não se apoia no repertório básico do espectador. Antes envereda pelo absurdo de cada situação para chegar a soluções bastante criativas. 5 X COMÉDIA foi originalmente idealizada por nossa saudosa irmã Sylvia Gardenberg e produzida por ela e Monique nos anos 1990. Com diferentes textos e elencos, foi montada três vezes entre 1993 e 1999. De fôlego recuperado, a nova edição ainda vai espalhar muito riso pelo país afora.