Em busca do som perdido

O SOM DO SILÊNCIO no streaming

A atuação de Riz Ahmed no papel do baterista de punk rock que perde quase totalmente a audição é o fator que mais chama atenção em O Som do Silêncio (Sound of Metal), indicado ao Oscar em seis categorias. É de fato uma performance magnetizante pela forma contida e minuciosa com que ele encarna o espanto, o pânico e o subsequente desamparo de uma mudança brusca que o retira do seu mundo e da companhia de sua amada, a cantora Lou (Olivia Cooke). Mas o filme de Darius Marder não vive apenas disso. Faz um mergulho radical na condição do personagem, visual e sonoramente.

De uma hora para outra, Ruben tem que migrar do ambiente ruidoso do heavy metal para uma casa de reabilitação, onde deve “aprender a ser surdo”. O lugar é dirigido por um surdo oralizado que rejeita a noção de deficiência, substituindo-a por um modo de vida próprio. Ruben tem dificuldade em aceitar essa receita e vai tentar outros caminhos, na esperança de reaver o que tinha antes.

O filme está impregnado de uma verdade extra-fílmica. Darius Marder e seu irmão, o corroteirista Abraham Marder, tiveram uma tia cinéfila que perdeu parte da audição e militou pela legendagem de filmes para surdos. Paul Raci, o intérprete do diretor do centro, é um veterano do teatro de surdos que montou pela primeira vez a peça Children of a Lesser God, base do filme Filhos do Silêncio (1986). Daí talvez provenha a sensibilidade com que tudo é encenado, principalmente na relação entre Riz Ahmed e o elenco de pessoas surdas.

O som, naturalmente, é a segunda estrela do filme. Somos levados a compartilhar a surdez de Ruben – que não significa silêncio, mas um zumbido oco, como se ouvíssemos o mundo desde o fundo do mar. O contraste com o som normal e depois com outro estágio da audição de Ruben é parte indissociável do drama que acompanhamos, à medida que sentimos o alheamento do rapaz de tudo o que o cerca.

O Som do Silêncio (não confundir com o longa homônimo dirigido por Michel Tyburski) é daqueles filmes que nos mantêm ligados com todo o corpo. É triste e duro, com poucos momentos de alívio. Quem quiser ter uma impressão menos fatalista da perda auditiva deve preferir o belo curta Dois Mundos, de Theresa Jessouroun (veja aqui).

>> O Som do Silêncio está na plataforma Amazon Prime. 

Trailer (acione as legendas):

5 comentários sobre “Em busca do som perdido

  1. Pingback: Todas as minhas resenhas do Oscar | carmattos

  2. Exatamente o que percebi no filme e aquela expressão perplexa de Riz Ahmed é precisa para expressar sua nova condiçāo. Muito bom.

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