Festival do Rio
De La Ciotat a Avatar
Se você gosta de competir com Rubens Ewald Filho na identificação de cenas e atores nos clipes da cerimônia do Oscar, então vai se divertir muito com Senhoras & Senhores – Corte Final. Esse filme húngaro é aquilo elevado à longa metragem. Difícil será assisti-lo em silêncio. São pequenos trechos de cerca de 450 filmes, de A Chegada do Trem à Estação de La Ciotat a Avatar, editados de modo a contar uma história de boy meets girl, girl seduces boy, boy fucks girl, girl smashes boy, boy looses girl, boy marries girl, boy goes to war, boy dies at war e por aí vai.
Os sintagmas clássicos do cinema (perseguições, revelações, expectativas, seduções) se sucedem em continuidade perfeita e ritmos variando do vertiginoso ao êxtase amoroso. Na trilha sonora, uma colagem de temas populares do cinema mundial. Assim é possível fazer Carlitos dançar ao som dos Bee Gees e Norman Bates se assombrar diante da cruzada de pernas de Sharon Stone. Não há espaço para a monotonia, nem memória enciclopédica que recorde todos os filmes americanos, europeus e asiáticos que deixam seu rastro. Nenhum latino-americano ou africano, que eu tenha percebido.
A façanha da edição de imagem e som pode ser medida pelo bloco em que Rita Hayworth (Gilda) canta Put the Blame on Mame e a canção vai sendo repassada para outras divas-cantoras segundo a semelhança dos movimentos labiais. O diretor Gyorgy Pálfi e seus quatro montadores levaram mais de três anos na mesa de edição ordenando esses clipes sem nenhuma garantia de que teriam os direitos liberados. Talvez nunca cheguem a ter, o que limita a circulação do filme ao perímetro dos festivais.
Divertido quase sempre, repetitivo às vezes, Final Cut é prato cheio para cinéfilos, mas pode ser apenas um clipe longo demais para quem não entrar na brincadeira. No Brasil, Joel Pizzini fez algo semelhante, embora mais curto e intrigante, com uma única atriz, Glauce Rocha, no belíssimo Glauces.
Boa tarde, fiquei imensamente curioso e interessado em ver esse filme!! Onde poderia encontrá-lo??? Excelente texto! Parabéns pelo blog!!
Abraço
Infelizmente, Fábio, esse filme circulou apenas em festivais. Com sorte você talvez o encontre na internet. Continue ligado no blog. Abraço
Tem UM filme latinoamericano,sim: uma breve (como quase todas) cena de “Anjo Exterminador”, de Buñuel. Mas nos créditos, se aparec o nome do filme e do diretor, ao contrário de outras referências não rola o nome do ator que aparece – e que faz o mordomo, talvez tenham achado que era um figurante qualquer. Mas não é: o personagem é importante nno filme e o ator é Claudio Brook, mexicano apesar do sobrenome. Era filho de ingleses, fluente na língua dos pais tanto como como em espanhol, o que lhe permitiu aparecer em produções americanas (incluindo um filme dirigido por Sérgio Toledo, com Anthony Hopkins e Fernanda Torres) e até mesmo anglo-francesas (“A Grande Escapada”). Trabalhou em outros filmes de Buñuel, inclusive no papel-título de “Simão do Deserto”.
Bem observado!
Beleza! De filme, de texto e lembrança do maravilhoso “Glauces” (e Glauce Rocha era maravilhosa, a maior atriz que já tivemos)