NAS MÃOS DE QUEM ME LEVA no streaming
Esse primeiro longa do ator e diretor João Côrtes é um exemplo de como uma história relativamente comum, já contada muitas vezes pelo cinema comercial, pode ganhar frescor e nos manter ligados do início ao fim. E o que faz isso é o senso de medida da direção, o acerto absoluto na condução do elenco e a sensibilidade na forma de tornar as emoções palpáveis cinematograficamente.
O coração de Nas Mãos de Quem me Leva pulsa junto com Fernanda Marques, uma das atrizes mais bonitas, charmosas e talentosas a surgir ultimamente no audiovisual brasileiro. Ela é Amora, garota que ficou órfã muito cedo, desde o plano-sequência magnetizante que abre o filme. Aos 22 anos, ela tem seu cotidiano exposto com certo didatismo: as divergências geracionais com a avó religiosa e conservadora (Neusa Maria Faro); a relação de confidente com o colega de trabalho num sebo (Bruno Suzano, excelente); e as sessões na psicanalista amiga (Daniela Galli), com quem ela desabafa sua falta de perspectivas.
O marasmo íntimo de Amora começa a mudar quando ela conhece casualmente Bruno (vivido pelo músico Ed Côrtes, pai do diretor), empresário mais velho que a seduz com elegância e abre uma avenida de possibilidades à sua frente. Daí em diante, o medo e a entrega vão se digladiar dentro da moça. A nós, espectadores, cabe aguardar qual dos dois, o medo ou a entrega, terá razão.
Ou seja, é um filme vacinado contra novidades. No entanto, os lugares-comuns são tratados com uma percepção tão aguda que não soam tão comuns assim. Há uma forma bonita de filmar os corpos e seus detalhes atuando na dramaturgia das cenas. Um senso preciso de evolução no romance entre Amora e Bruno faz com que tudo soe plausível e envolvente. Não descarto que os pontos de virada da história possam ser previsíveis, assim como alguns diálogos flertem com o clichê. Mas a surpreendente maturidade de João Côrtes na administração dos tempos e das relações entre os personagens acaba por engendrar um filme cativante.
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