Nesse intenso agora

João Moreira Salles será entrevistado ao vivo na Live do Conde deste domingo.

No ano de 2019, que já parece tão longínquo, João Moreira Salles passou cinco meses enfurnado no Norte do Brasil, apurando “a história de como a maior floresta tropical do planeta vem sendo percebida por aqueles que se relacionam com ela desde o século XVI até os dias de hoje”. O resultado dessa longa viagem e de dois anos de pesquisa foi publicado numa série de reportagens da revista piauí, sob o título “Arrabalde” (leia aqui).

Salles, fundador e editor da revista e um dos maiores documentaristas brasileiros, já então percebia que a Amazônia seria o palco de uma peça trágica sobre o país. Então não imaginava que a pandemia da Covid-19 iria tornar o cenário ainda mais devastador. A recente demissão do sinistro ministro Ricardo Salles não amenizou os temores que cercam o meio-ambiente, os povos indígenas e a própria sobrevivência do planeta.

Os achados e as reflexões de Salles, o João, sobre a Amazônia serão um dos assuntos da entrevista que ele dará neste domingo, às 20 horas, na Live do Conde. O acesso será por três canais do Youtube: Gustavo Conde, Rede TVT e Grupo Prerrogativas. Na condução da entrevista estaremos Conde e eu.

Vamos exibir alguns trechos de filmagens que João realizou na Amazônia (frame acima), além de cenas de filmes seus como Entreatos, Santiago e No Intenso Agora. Trata-se de uma filmografia essencial para compreendermos não só os caminhos da grande política e das micropolíticas familiares, como também os procedimentos e os impasses de quem faz documentários – essa complexa tarefa de transformar o real em cinema.

João Moreira Salles tem no documentário uma ferramenta para sua curiosidade sobre as imagens advindas diretamente do mundo. Sua formação tem menos a ver com a cinefilia do que com o jornalismo e as leituras teóricas e científicas. Ele é um dos responsáveis pela criação do Instituto Serrapilheira, que financia e apoia a pesquisa e a divulgação científicas no Brasil.

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A cada filme João procura explorar um formato possível de documentário e, muitas vezes, colocar indagações sobre a própria natureza do cinema documental. O curta sobre Ana Cristina César, Poesia é Uma ou Duas Linhas e Atrás Uma Imensa Paisagem (1990), é um perfil de artista traçado no experimentalismo e na videoarte. Impulso semelhante anima Blues (1990), sobre a música-lamento afro-americana. Na minissérie Futebol, João e seu parceiro Arthur Fontes combinaram diferentes procedimentos documentais, com destaque para o episódio sobre Paulo César Caju nos moldes do cinema direto americano, o método mais utilizado e difundido teoricamente por João.

O cinema direto, ou documentário observacional, predominou em Nelson Freire (2003) e Entreatos (2004), cada um problematizado pela natureza de seus personagens centrais. Já Notícias de uma Guerra Particular (1999) e O Vale (2000), feitos originalmente para a TV, se aferravam ao modelo do documentário de reportagem. Santiago (2007), por sua vez, afiliava-se ao documentário pessoal-familiar e veiculava uma autocrítica acerba quanto à relação diretor-personagem. No Intenso Agora (2017) trazia um João plenamente instalado no documentário ensaístico, ecoando seu apreço pelo cinema de Chris Marker e Harum Farocki.

Quem já o ouviu sabe que é sempre um privilégio. Sua presença na Live do Conde tem tudo para ser uma grande atração.

Assista:

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