À primeira vista, o livro que Amir Labaki acaba de lançar pela Imprensa Oficial de São Paulo parece ser um catálogo-de-catálogos dos primeiros 15 anos do Festival É Tudo Verdade. Lá estão as listas de todos os filmes participantes e os premiados de cada ano, assim como muitas fotos do festival, dos convidados e das obras exibidas. Mas, à medida que avançamos na leitura dos textos de Amir a respeito de cada edição, vamos constatando que o livro é bem mais que isso.
É Tudo Cinema – 15 Anos de É Tudo Verdade pode ser lido como uma síntese da cultura do documentário no Brasil no período 1996-2010, narrada por quem mais conhece o assunto. Labaki usa um enfoque bem pessoal (nos limites de sua persona discreta) para relembrar como foi preparado cada festival e como cada um repercutiu no mercado e nas reflexões sobre essa modalidade de cinema entre nós. De fato, a memória do ÉTV se confunde com a memória do doc no Brasil nesses 15 anos.
O relato começa na inesquecível conversa que tivemos os dois no CCBB-Rio, em 1994, quando o estimulei a criar o projeto de um festival internacional de documentários. Dali em diante, Amir não mais parou de pensar e ter ótimas ideias sobre o assunto, já a partir do nome do evento que se concretizaria dois anos depois. O resto está contado nas páginas do livro com riqueza de detalhes: suas viagens a festivais internacionais, os contatos e conhecimentos que carreou para o festival brasileiro, a história das grandes retrospectivas, o crescimento em tamanho e importância do certame.
Não faltam episódios memoráveis como a vinda de Johann Van der Keuken ao Brasil durante a preparação de Férias Prolongadas, seu filme-testamento; a visita de Marcel Ophuls a uma favela carioca; ou o encontro de Robert Drew com Marina Silva. Entre a crônica e o balanço cultural, É Tudo Cinema nos coloca, ao mesmo tempo, nos bastidores e na consciência do maior festival de documentários da América Latina.