A Mostra Século XXI: Mulheres, Ação! reúne filmes e promove debates sobre protagonismo feminino no Rio e em São Paulo.
A execução de Marielle Franco foi o estopim decisivo para a produtora cultural Andrea Cals se juntar às colegas Flavia Candida, Julia Mariano e Patrícia Barbara com vistas à realização da mostra Século XXI: Mulheres, Ação! A partir desta segunda, 3 de setembro, o Cinemaison (Consulado da França no Rio), a Cinemateca do MAM-RJ e o Instituto Moreira Salles de SP vão exibir 34 filmes sobre protagonismo feminino. Todos dirigidos por mulheres.
Um dos destaques vai para os nove filmes vindos do instituto feminista Centre Audiovisuel Simone de Beauvoir, da França. Entre eles o raro longa-metragem Sois Belle et Tais-toi!” (“Seja bela e cale a boca!”), inédito no Brasil, dirigido por Delphine Seyrig (1932-1990), musa da Nouvelle Vague conhecida sobretudo por estrelar o clássico O Ano Passado em Marienbad. No documentário, Seyrig entrevista 24 atrizes francesas e americanas, incluindo Jane Fonda, Shirley McLaine, Juliet Berto e Maria Schneider. Elas comentam o dia-a-dia de suas vidas nos bastidores cinematográficos, seus papéis e relacionamentos com diretores e equipes técnicas. Segundo as curadoras da mostra, o filme de Seyrig constitui “um relatório coletivo bastante negativo registrado em 1976, mas que encontra ecos em pleno 2018, com o movimento #metoo”. Esse filme será apresentado em única sessão na Cinemateca do MAM/Rio, dia 4 de setembro, e no IMS Paulista, nos dias 12 e 16 de setembro.
Delphine Seyrig e as documentaristas Carole Roussopoulos, Iona Wieder e Nadja Ringart criaram nos anos 1970 o coletivo Les Insoumuses, um trocadilho com as palavras “musas” e “insubmissas”. Desse coletivo serão exibidos também Le FHAR – Front Homosexuel D’Action Révolutionnaire e Qui a Peur des Amazones?, de Carole Roussopoulos, Accouche!, de Ioana Wieder e Carole Roussopoulos, e Une Femme à la Camera”, de Emmanuelle de Riedmatten. Só a plateia paulista poderá ver o irreverente Maso e Miso Vão de Barco (1976), que usa de ironia e sarcasmo para interferir na reprodução de uma entrevista realizada pelo jornalista Bernard Pivot com a também jornalista e escritora Françoise Giroud, então Secretária de Estado da Condição Feminina do governo Jacques Chirac.
Outro destaque é Audre Lorde, the Berlin Years 1984 to 1992, de Dagmar Schultz, perfil da poetisa e renomada militante LGBT negra. Audre Lorde foi fundamental para o fortalecimento do movimento afro-alemão. Esse filme, também inédito no Brasil, terá uma única exibição, no dia 7 de setembro, às 16h, na Cinemateca do MAM/RJ.
Também inédito e não menos importante, Portrait de Simone de Beauvoir, de Alice Schwarzer, traz o principal nome do feminismo europeu mostrando a própria casa, sua intimidade, seus bibelôs e fotos de viagem (inclusive do Brasil), ambientes íntimos favoritos e, de quebra, a participação de Jean-Paul Sartre conversando sobre o relacionamento dos dois e até jogando damas. Entrevistada em diversos locais, inclusive em Roma, Simone critica a obrigação da maternidade imposta às mulheres, fala da necessidade de emancipação econômica como primeiro passo para a liberação feminina, comenta seu engajamento e faa a defesa da opção pela homossexualidade. Em momentos mais prosaicos, ela é vista pintando as unhas e passeando com uma amiga até o favorito restaurante La Coupole. Esse média-metragem alemão passa sábado, às 18h, na Cinemateca do MAM/RJ.
A programação abrange também 25 filmes brasileiros com temática feminina e feminista. Na abertura (dia 3, às 19h30, no Cinemaison), será exibido Baronesa, de Juliana Antunes, juntamente com o curta sul-africano Thokozani Football Club: Team Spirit, sobre o pequeno time de futebol de um vilarejo perto de Durban, composto de lésbicas negras, que batizaram seu time em homenagem a Thokozan Qwabe, uma jogadora negra lésbica, vitima de crime de ódio em 2007. O curta revela como o futebol tem servido de refúgio da violência e fator de fortalecimento comunitário para aquelas jovens.
Entre os brasileiros consta o novíssimo Chega de Fiu-Fiu, de Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão, estrelado por três mulheres que, por meio de ativismo, arte e poesia, resistem e propõem novas formas de (con)viver no espaço público. E ainda filmes de grande repercussão como Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, Mate-me por Favor, de Anita Rocha da Silveira, Meu Corpo é Político, de Alice Riff, e Amor Maldito, de Adélia Sampaio, cineasta pioneira que será homenageada na mostra.
A Cinemateca do MAM vai abrigar uma série de debates sobre os temas “Maternidade: uma escolha”, “Chega de assédio”, “Lesbianidade, ação!”, “Protagonismo Negro” e a atuação do Centre Audiovisuel Simone de Beauvoir.