LIZZIE
LIZZIE adota a hipótese mais difundida, mas não a única, do crime que abalou Massachussets em agosto de 1892. Lizbeth Andrew Borden foi acusada de ter matado o pai e a madrasta a (muitos) golpes de machadinha. No julgamento acabou inocentada, mas, apesar de diversas teorias contraditórias, a suspeita continuou recaindo sobre ela. A dificuldade de se abordar questões como o lesbianismo e a violação sexual à época pode explicar as falhas na investigação.
Das várias versões do crime no cinema, TV, teatro e literatura, esse filme de Craig William Macneill parece ser a mais detalhada e assertiva na culpabilização de Lizzie. Descreve em pormenores brutais os ataques da moça e assume a suposição de que um dos motores do crime seria uma relação amorosa que Lizzie mantinha com a empregada Bridget “Maggie” Sullivan.
O grande trunfo do filme é sua concisão nos poucos personagens e a sugestão do crescente rancor entre a desajustada Lizzie e seus tutores mais velhos – o pai opressor, o tio sórdido e a madrasta oportunista. A aliança que se forma entre Lizzie e Bridget é a de duas mulheres espezinhadas pelo poder dos homens, que encontram sororidade uma na outra.
Chloë Sevigny está brilhante no papel de Lizzie, um fio desencapado sempre prestes a explodir num ataque epiléptico ou num arroubo de violência. Kristen Stewart, como Bridget, faz muito bem as típicas carinhas de enjoo com que costuma exprimir qualquer emoção fora do padrão. A direção é segura e sugestiva, com boa dose de suspense nas cenas decisivas. A fotografia de Noah Greenberg tira partido da concentração espacial para criar um ambiente de tensão permanente.