por Paulo Lima
Para os fãs de John Lennon, o documentário JOHN E YOKO – SÓ O CÉU COMO TESTEMUNHA, que acaba de estrear na Netflix, é um presente.
Tendo como eixo os bastidores da gravação do álbum Imagine, de 1971, o filme dirigido por Michael Epstein traz imagens inéditas do mais controvertido dos Beatles.
Acompanhamos Lennon e Yoko em seu idílio familiar de Tittenhurst Park, último pouso do casal antes da mudança definitiva para Nova York.
Os detalhes da gravação no estúdio instalado na mansão permitem uma rara proximidade dos processos de criação de John Lennon.
A elaboração obsessiva de Imagine, a canção icônica que puxou o sucesso do álbum e se tornou um dos grandes hinos pacifistas do século 20, cujos versos “above us only sky” dão título ao filme, ocupa boa parte da narrativa, preenchida também por depoimentos de amigos, jornalistas e músicos que tomaram parte das sessões de gravação.
Em algum momento, surge a informação de que Lennon teria se apropriado da ideia original da canção, que pertenceria a Yoko Ono. A utopia que cerca o ato de imaginar um mundo sem fronteiras já estaria em seu primeiro livro Grapefruit. Um John Lennon pesaroso aparece, tempos depois, fazendo um mea culpa pela atitude machista, por não ter dado o devido crédito a sua musa.
Mas essa “esquentada” não rompe com a sensação de déja-vu em relação às histórias do casal, já amplamente esmiuçadas.
Além do ineditismo de algumas imagens de arquivo, a graça do filme recai também nas pequenas revelações dos que participaram, em algum momento, da intimidade de John e Yoko, o que inclui o testemunho de Julian Lennon, visto em cenas de traquinagens infantis pela vastidão da propriedade milionária do pai.
O filme de Michael Epstein é, no fundo, um delicioso revival, como ouvir uma canção de John Lennon, sabendo que está lá atrás no tempo, mas estranhamente presente.
Paulo Lima