CORPUS CHRISTI
Texto com spoilers:
Não entendo como o polonês CORPUS CHRISTI chegou até a disputa do Oscar de filme internacional. Como cinema, é apenas correto e bem fotografado. Como dramaturgia, é uma procissão de implausibilidades e fragilidades.
Um criminoso passa por uma transformação espiritual no contato com o padre do presídio e é enviado para trabalhar numa serraria em cidade interiorana. Ele diz que quer ser padre, mas já na primeira noite de liberdade faz sexo num banheiro e cheira cocaína.
Ao chegar na comunidade, um equívoco faz com que ele seja tomado como um novo padre que veio substituir o vigário doente. As pessoas o recebem sem nenhuma checagem, apesar de todas as hesitações do rapaz no novo papel. Ele passa, então, a exercer um inesperado carisma e consolar os parentes das vítimas de um acidente que traumatizou o vilarejo. Opõe-se ao prefeito local e prega o perdão para a viúva do homem que teria supostamente causado o acidente. Na verdade, está reivindicando o perdão para si mesmo.
A trama, porém, evolui para o clichê do passado que retorna para fazer sua cobrança. Resta uma parábola sobre quem, afinal, está mais perto de Deus – se um falso padre que se deixa contaminar pelos prazeres do mundo, mas promove o bem do seu rebanho, ou aqueles que se dizem verdadeiramente religiosos mas alimentam o ódio. O olhar intenso e ambíguo do ator Bartosz Bielenia impressiona, mas não supera o que o filme tem de inverossímil e carola sob o disfarce do contraditório.