A arte em que a gente pisa

NO CAMINHO DAS PEDRAS no Canal Brasil

Quantos de nós já pararam para apreciar os desenhos nas calçadas de pedras portuguesas por onde passamos diariamente? Quantos já tiveram a chance de ver de cima essas obras de arte urbana no espetáculo do seu conjunto? Quantos já se perguntaram, afinal, como se constroem essas geometrias bi ou tricolores?

O documentário NO CAMINHO DAS PEDRAS, de Marco Antonio Pereira, chegou para preencher essas lacunas na vida dos passantes desatentos e apressados. O Canal Brasil vai reprisá-lo nos seguintes dias e horários: segunda, 17/02, às 14h10; quarta, 19/02, às 15h45; quinta, 20/02, às 7h30; e sexta, 21/02, às 11h45.

Chamada repetidamente de “pele simbólica da cidade”, a pavimentação com as pedrinhas pretas e brancas tem no calçadão de Copacabana seu mais extenso e famoso exemplar. O filme descortina muitos ângulos menos conhecidos dessa obra-prima de Burle Marx e de outros pisos deslumbrantes no Brasil e em Portugal. Poucas vezes as janelas altas e os drones já tiveram uma função tão útil e reveladora em um documentário.

Há obviamente um viés didático. Aprendemos que as origens dessa arte estão nos mosaicos internos romanos e sua prática requer os conhecimentos e mão de obra especializados dos calceteiros, ofício em perigo de extinção. A chegada das pedras portuguesas ao Rio é amplamente contextualizada no bojo das reformas urbanas de fins do século XIX, assim como seu uso estendido atualmente em obras de arte urbana nem sempre horizontais.

Esse tipo de calçamento artesanal requer cuidados frequentes de manutenção, o que nossas prefeituras estão longe de fornecer. Daí que as pedras portuguesas sejam vilanizadas por muita gente que já sofreu acidentes em buracos e desníveis. É particularmente curioso ouvir o próprio cônsul de Portugal no Rio, um entusiasta das pedrinhas, contar que alguém da sua família já quebrou a perna numa dessas calçadas.

Apesar desses percalços, prevalece a paixão das cidades brasileiras e portuguesas por esse tipo de calçamento, já entronizado no design de roupas, calçados, acessórios e souvenires turísticos.

Marco Antonio Pereira e sua corroteirista Sylvia Palma foram em busca de arquitetos, urbanistas, antropólogos, artistas, fotógrafos e mestres calceteiros para abrir tanto quanto possível o leque do documentário. Assim é que ficamos com uma análise ampla da decoração urbana e dos usos da calçada na formação do espírito das cidades.

A interação cidadã, a festa, a performance, as manifestações políticas e até o skate são alguns exemplos de atividades realizadas sobre os desenhos de pedras portuguesas que, de tão naturalizados, tantas vezes são esquecidos sob nossos pés (a não ser quando as pedras servem para atirar na polícia). O fato é que, depois de ver NO CAMINHO DAS PEDRAS, não vamos mais caminhar pela cidade do mesmo jeito.

5 comentários sobre “A arte em que a gente pisa

  1. O RIO é a cidade mais desburacada do planeta. Pedras portuguesas em Lisboa é um tapete onde caminhamos sem.medo. Aqui é ameaça constante. O filme fala desse lado tb ? Se apenas exalta a beleza do projeto não serve. O CINEMA deve estar à serviço do Homem.

  2. O RIO é a cidade mais desgraçada do planeta. Pedras portuguesas em Lisboa é um tapete onde caminhamos sem.medo. Aqui é ameaça constante. O filme fala desse lado tb ? Se apenas exalta a beleza do projeto não serve. O CINEMA deve estar à serviço do Homem.

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