SIMPATIA PELO DIABO no streaming
Estar ou não estar, eis a questão para qualquer correspondente de guerra. O jornalista pode passar por um conflito mantendo-se a uma “distância informativa” dos fatos, estando ali e ao mesmo tempo não estando. Ou pode compartilhar dos dramas de quem se encontra à mercê de balas e bombas. O francês Paul Marchand (1961-2009) jogava no segundo time. Ou pelo menos é assim que ele é retratado em Simpatia pelo Diabo (Sympathie pour le Diable).
Marchand arriscou a vida cobrindo a Guerra do Líbano do lado dos muçulmanos, mas o filme de Guillaume de Fontenay restringe-se a sua igualmente dramática passagem pela Guerra da Bósnia. Ele foi um dos primeiros a chegar a Sarajevo durante o sítio sérvio. No início o vemos confraternizando com os colegas no Holiday Inn. Ao final, já não se identifica mais como um deles, revoltado com a amenização das críticas ao Ocidente por não intervir em defesa dos bósnios.
Marchand (Niels Schneider) aparece como um cara eminentemente humanitário. Demonstram isso a sua relação com um cão vira-lata e com a intérprete sérvia (Ella Rumpf) com quem tem um envolvimento afetivo, bem como sua disposição para interromper o trabalho e socorrer um ferido. Sem nunca largar o charuto, dirigindo seu Ford Sierra a toda velocidade pelas ruas sitiadas de Sarajevo, ele está sempre a caminho de um flagrante ou de uma filantropia. Chega mesmo a se lançar numa missão perigosa em favor dos sitiados. Não há como evitar a lembrança do protagonista de Bem-vindo a Sarajevo, filme que Michael Winterbottom rodou na cidade logo após o término do conflito.
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É provável que, baseando-se no romance autobiográfico homônimo de Marchand, o filme escamoteie aspectos mais contraditórios que minaram o nome dele no meio midiático canadense, para onde se mudou quando trocou o jornalismo pela literatura. Nem há menção a sua morte por suicídio. Simpatia pelo Diabo é um relato de herói, e pronto.
O estilo documental produz um forte realismo nas cenas de fogo cruzado e uma tensão quase constante em torno de Paul e dos que lhe estão próximos. A tela quadrada gera certa claustrofobia, acentuada por uma câmera na mão que parece estar sempre em situação de combate, mesmo quando está filmando um simples banho ou uma conversa descontraída. O filme quer mostrar a todo momento que, assim como Marchand, está inteiro “lá”.
>> Simpatia pelo Diabo está na plataforma Reserva Imovision